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Quinta do Convento branco 1999
A surpreendente encomenda da Kranemann prometia.
«O monumento de histórias e vinhos que é a Quinta do Convento de São Pedro das Águias, onde a Kranemann Wine Estates se estabeleceu em 2018, permite-nos o privilégio de lançar no mercado alguns vinhos muito especiais. O nosso património de Porto desde logo a isso aponta. O que não esperávamos era esta fortuna de encontrar – e poder colocar no mercado – um vinho DOC Douro com 20 anos de evolução! Eis o Quinta do Convento branco 1999, literalmente descoberto nas catacumbas do nosso convento e que agora apresentamos como uma viagem muito particular pela expressão do nosso terroir.»
Porém, o percurso pelo vale do rio de montanha que é o Távora não se ficava por aqui.
«Paralelamente, e como contraponto, partilhamos o presente, o nosso Quinta do Convento 2018, o herdeiro mais recente desta verdadeira surpresa, quem sabe, a caminho de revelar também todo o seu potencial de evolução.»
Pois, não sei se vamos conseguir resistir duas décadas sem abrir o 2018.
De qualquer forma, por agora, a nossa prioridade foi mesmo para a descoberta do fascinante 1999.
Um branco com 20 anos, que o enólogo Diogo Lopes define assim:
«Robustez, personalidade e complexidade. Vinho de cor dourada, brilhante e atrativa. Aroma rico, intenso, mostrando uma grande evolução dos seus aromas terciários, boas notas especiadas, de marmelo, amendoadas e de laranja cristalizada, num conjunto de grande complexidade; uma acidez viva ao paladar, um vinho que mantém volume, untuosidade e riqueza aromática, levando a um bom final de grande persistência.»
Contudo, a Kranemann anunciou igualmente que, daí a uns dias, o seu enólogo iria fazer nas redes sociais uma apresentação ao vivo desta edição especial.
O que nos levou, então, a tomar duas decisões.
Uma, claro, foi a de aceitarmos o desafio do Diogo Lopes para assistirmos em direto à sua conversa com o sommelier Rodolfo Tristão e também com o André Ribeirinho, do Adegga MarketPlace, a plataforma digital onde o vinho está à venda.
A outra decisão foi relativa ao momento da nossa própria prova. Prová-lo em simultâneo com a apresentação não faria sentido, seriam duas experiências conflituantes, ambas sempre em perda – ou não prestaríamos a devida atenção à transmissão ou não prestaríamos a devida atenção ao nosso vinho. Pelo que só restavam duas alternativas: antes ou depois. De facto, uma possibilidade interessante seria provar o vinho primeiro, ou seja, seria assistirmos à apresentação já com o vinho provado e com a nossa opinião já formada. No entanto, a nossa preferência foi a contrária, foi a de esperar um pouco, a fim de enriquecermos ainda mais a nossa experiência de prova com o contributo adicional de toda a informação que certamente resultaria dessa conversa online em torno dos vinhos Kranemann Wine Estates que iria ter como ponto de partida esta novidade do Quinta do Convento branco de 1999. De modo que, como a transmissão estava agendada para as seis da tarde, combinámos aqui em casa abrir então a nossa garrafa nessa mesma noite, ao jantar.
E assim foi.
Primeiro, vimos e ouvimos as impressões que Diogo Lopes trocou ao vivo na internet com os seus dois convidados – uma sessão muito interessante, que continua disponível aqui.
E, a seguir, avançámos para a mesa.
Ora, com um branco de 1999 – e de forma a que sobressaísse o vinho – a nossa escolha foi fazer um jantar de queijos. Queijos portugueses. Um Queijo de Azeitão DOP e um Queijo Picante da Beira Baixa DOP. E pão – o Trigo-Barbela e o Trigo-Espelta do Alentejo, ambos da GLEBA; o Pão de Azeitonas, da Ana Paula Moreira; e ainda umas finas crackers de centeio e sementes que tínhamos trazido no mês passado de Copenhaga, quando ainda se podia viajar. Mais diversas variedades de mini cenouras biológicas da Quinta do Poial, cada uma com a sua cor. Nozes de Galamares, dos meus Pais, que, como aprendemos com o chef Hiroki Abe do KAJITSU, estrelado japonês vegan de Nova Iorque, torrámos levemente no forno, de modo a ganharem ainda mais sabor e crocância. E, também, o envolvente toque doce e cítrico do Lemon Curd do Convento dos Cardaes.
Quanto à temperatura de serviço, apesar de haver quem goste de colocar os brancos antigos desde logo no frigorífico dos tintos, como aqui não estávamos a beber a copo, começámos um pouco mais abaixo – por volta dos 10 ºC – para irmos acompanhando, lentamente e sem frappé, a sua evolução ao longo de todo o jantar.
A abertura da garrafa – por vezes, uma dificuldade em vinhos mais antigos – decorreu sem sobressaltos. A rolha estava impecável.
Já o vinho, estava sublime!
Desde logo, muito vivo!
Com efeito, apesar de cada garrafa ser mesmo só uma garrafa – ainda para mais com vinhos antigos – tivemos a felicidade de a nossa ter superado maravilhosamente o teste do tempo!
Naturalmente que, passados tantos anos, já se foram aqueles aromas de fruta fresca – estamos a falar de um vinho cuja vindima decorreu em setembro de 99 e que esteve em garrafa desde junho do ano 2000!
Porém, o vinho mantém uma acidez vibrante!
E estes 20 anos deram-lhe uma extraordinária riqueza e complexidade!
Estando evoluído, virtuosamente bastante evoluído!
E tendo ligado muitíssimo bem com o jovem e amanteigado Queijo de Azeitão.
Assim como com o poderoso Picante da Beira Baixa, bem seco e salgado. Uma experiência de harmonização, aliás, que vamos fazendo algumas vezes com o 98 e o 99 dos nossos primos da Herdade do Cebolal. E que permitiu, mais uma vez, comprovar que este extraordinário queijo português, para além de funcionar otimamente com licorosos – nomeadamente, Porto e Madeira – também resulta de forma maravilhosa com brancos antigos de perfil extremamente evoluído.
Foi, pois, uma extraordinária viagem no tempo pelo terroir do vale do Távora!
Que, verdade seja dita, tornou-se ainda mais marcante dado 1999 ser para nós uma data muito especial – é o ano do nosso casamento. De facto, o vinho são histórias. Mas não são só as dele. São também as nossas.
Saúde!
Kranemann lança branco com 20 anos de evolução
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