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Touriga-Fêmea, raro varietal da Casa Ferreirinha

por Raul Lufinha, em 10.02.21

Casa Ferreirinha Touriga-Fêmea Tinto 2016

Casa Ferreirinha Touriga-Fêmea Tinto 2016

As principais marcas da histórica Casa Ferreirinha, no Douro, têm uma enorme pujança comercial e são sobejamente conhecidas do grande público – abrangendo, aliás, uma vasta gama de vinhos, que começa nos jovens Esteva e Planalto, passa pelos mais complexos Papa Figos, Vinha Grande e Callabriga, e vai até aos extraordinários Quinta da Leda, Antónia Adelaide Ferreira e Reserva Especial, culminando naturalmente no mítico Barca-Velha.

O que já não é tão conhecido – porém – é o lado experimental da Casa Ferreirinha!

E, em especial, a sua aposta em castas raras e menos comuns, em castas tradicionais da região demarcada do Douro que, com o passar dos anos, foram caindo em desuso.

Aposta essa que em 2008 levou inclusivamente a Casa Ferreirinha a também plantar na Quinta do Seixo variedades antigas como Donzelinho, Tinta Francisca ou Touriga Brasileira.

Mas não só!

Com efeito, a Casa Ferreirinha, para além de aproveitar estas castas menos usuais do Douro para afinar os seus lotes, por vezes, também as utiliza… para fazer vinhos varietais!

Pequenas produções, como é óbvio.

E edições limitadas.

Mas, cada vez mais, disponíveis também para o público em geral.

Por exemplo, da colheita de 2015, saiu o Tinta Francisca.

E agora, da vindima de 2016, também com uvas da Quinta do Seixo, chegou ao mercado, em novembro de 2020, o Touriga-Fêmea.

100% Touriga-Fêmea.

Casta que – apesar de não ter vindo do outro lado do Atlântico – é também conhecida no Douro como Touriga Brasileira.

Explicando o contrarrótulo que a «Touriga-Fêmea é uma casta rara resultante do cruzamento entre Touriga Nacional e Malvasia Fina».

Tão rara, na verdade, que, prossegue o texto, «existem menos de 40 hectares desta casta plantados em Portugal».

Para depois concluir que, «respeitando a tradição das especialidades da Casa Ferreirinha, este é um vinho exclusivo, de qualidade excecional».

Com efeito, de acordo com Luís Sottomayor – enólogo responsável pelos vinhos da Sogrape no Douro, à qual a Casa Ferreirinha pertence desde 1987, e que também assina mais esta nova “especialidade” da Casa Ferrerinha – o «Casa Ferreirinha Touriga-Fêmea é um vinho vivo e elegante, que vem revitalizar uma casta tradicional, mas um pouco esquecida para a maioria dos apreciadores de vinhos do Douro».

«Ainda que menos comum – acrescenta – esta casta traz aos vinhos um caráter intenso e elegante, bem patente neste vinho de 2016».

Sendo esta a nota de prova do enólogo, feita ainda em 2019 – o vinho foi engarrafado em junho desse ano:

«Apresenta cor rubi profunda, um aroma intenso e complexo, com notas de frutos secos, como o figo, a amêndoa e a avelã, notas arbustivas, ligeiros frutos de caroço, frutos vermelhos frescos, com presença de madeira discreta e muito bem integrada. Na boca, tem uma acidez muito viva, que lhe confere intensidade, taninos firmes de boa qualidade e notas arbustivas, frutos vermelhos frescos. O final é longo e elegante.»

Touriga Nacional e Malvasia Fina

Touriga Nacional e Malvasia Fina, as duas castas cujo cruzamento originou a Touriga-Fêmea

Provado em casa

Entretanto, já no passado mês de dezembro de 2020, foi então com enorme expectativa que provámos, em casa, a nossa amostra do Touriga-Fêmea de 2016.

Claro que o ideal seria certamente esperar mais uns anos. Com efeito, apesar de a Casa Ferreirinha referir que «o vinho está pronto a consumir», também acrescenta que, «no entanto, irá beneficiar de um estágio em garrafa entre 5 a 8 anos, mantendo-se no seu melhor por vários anos». E o nosso acabou por estar engarrafado apenas um ano e meio. Mas, se não o abríssemos, não o conseguiríamos provar… E a verdade é que o vinho (embora, como é evidente, precise sempre que lhe dêem um pouco de tempo para respirar) efetivamente – tal como dizia a Casa Ferreirinha – mostra-se, desde já, muito pronto!

De qualquer forma, na nossa prova, o mais fascinante, o que mais ressaltou, foi mesmo verificar que este vinho cumpre integralmente o desígnio da Casa Ferreirinha.

Cumpre – desde logo – o objetivo da Casa Ferreirinha de produzir vinhos Douro DOC de grande qualidade. Como é indiscutivelmente o caso deste Touriga-Fêmea. Um grande vinho do Douro, feito exclusivamente a partir de uma casta que, apesar de menos usual, faz parte do património da região, demonstrando a extraordinária riqueza e diversidade dos terroirs da Casa Ferreirinha. Algo que tem ainda mais valor dada a tradição da região – e da Casa Ferreirinha – ser o vinho de lote e não o monocasta.

Mas não só!

Cumpre também o lema da Casa Ferreirinha de ter «em cada vinho uma história»! Efetivamente, com este Touriga-Fêmea, não se verifica apenas o caso de o vinho ter uma história por trás – que tem. Como também têm, aliás, muitos outros vinhos. Porém, o que mais fascina neste Touriga Fêmea é que – para além de ter essa história por trás – ao provarmos o vinho, sentimos mesmo essa sua história!

A prova confirma a história!

A prova torna a história verosímil!

Ou então, dito de outra forma, a história deste vinho é tão marcante que, ao prová-lo, conseguimos comprová-la.

Conseguimos senti-la.

Conseguimos sentir a origem desta variedade de uvas.

E conseguimos perceber a razão de ser do seu nome.

Efetivamente, ao provar este varietal de Touriga-Fêmea conseguimos perceber a história de esta casta ser o resultado do cruzamento entre a tinta Touriga Nacional e a branca Malvasia Fina. É quase um Touriga Nacional, mas, na verdade, não é bem (não é mesmo) um Touriga Nacional. É menos exuberante, tem menos estrutura, tem menos corpo!

E mais!

Ao provar o vinho, também conseguimos perceber a história do nome da casta, a razão pela qual foram dados a esta casta tinta os nomes de Touriga Brasileira e Touriga-Fêmea – de facto, sente-se que estamos perante uma Touriga… mais suave, mais elegante, mais delicada, mais feminina!

Sendo certo que isto, naturalmente, não resulta apenas da casta – é, acima de tudo, mérito do enólogo Luís Sottomayor e da sua abordagem minimalista, a qual permite que o vinho expresse verdadeiramente a variedade de uva que está na sua origem. Um trabalho que começa na vinha e prossegue na adega. E em que todos os pormenores contam – desde a cuidada seleção dos cachos ao ligeiro esmagamento, passando pela suave maceração e pelo longo estágio de 24 meses em madeira, mas recorrendo a barricas usadas de carvalho francês de 225 litros. Tudo, sempre de modo a que este varietal seja uma expressão da casta e, mais ainda, fazendo jus ao lema da Casa Ferreirinha, seja também uma expressão da própria história da casta! Nomeadamente quanto à sua origem e quanto ao seu nome!

Um vinho raro e fascinante, do qual foram produzidas apenas 1324 garrafas, com o PVP recomendado de 62,50 €.

Casa Ferreirinha Touriga-Fêmea Tinto 2016

Casa Ferreirinha Touriga-Fêmea Tinto 2016

 

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