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A consagração do NOMA nos 50 Best 2021
2021 está a ser um ano absolutamente extraordinário para o NOMA, do Chef René Redzepi.
Depois de há três semanas ter sido finalmente distinguido com a terceira estrela Michelin – a classificação máxima do guia – o premiado restaurante dinamarquês foi agora eleito “o melhor do mundo” para os The World's 50 Best Restaurants.
Claro que estas classificações são naturalmente sempre muito discutíveis.
Mas é também indesmentível que, com todos os seus defeitos e inconvenientes, o guia Michelin e a lista dos 50 Best são as duas mais relevantes e influentes classificações de restaurantes que existem a nível mundial.
Cozinha nórdica e Copenhaga, capital do mundo
Ainda nos 50 Best deste ano, destaque também para a enorme vitalidade que a cozinha nórdica continua a demonstrar e, bem assim, para a fervilhante cidade de Copenhaga, que se assume como uma autêntica capital do mundo gastronómico, ao alcançar o notável feito de conseguir ter os dois melhores restaurantes do mundo, ou seja, os dois primeiros classificados da lista de 2021, NOMA e GERANIUM – curiosamente, dois dos restaurantes que tínhamos visitado na nossa última viagem antes do início da pandemia, no final de fevereiro de 2020 (NOMA, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui; GERANIUM, aqui, aqui, aqui e aqui).
O melhor português
Por último, uma referência de louvor àquele que, para o júri dos 50 Best, continua a ser o melhor restaurante português: o BELCANTO, de José Avillez. Mantém a posição 42. E é, aliás, novamente em 2021 o único restaurante português a conseguir a proeza de estar no Top 100 dos melhores do mundo.
A lista dos 50 melhores do mundo de 2021
Ver também:
Gwendal Poullennec e René Redzepi
A nomeação de Gwendal Poullennec para responsável máximo do Guia Michelin, em setembro de 2018, tinha trazido a promessa de ventos de mudança.
E, de facto, até tem havido um esforço para tornar os guias mais digitais, mais inclusivos e mais verdes.
Porém, a grande mudança aconteceu ontem.
O Guia Michelin rendeu-se às evidências e finalmente atribuiu ao NOMA a terceira estrela!
A novidade surgiu na apresentação do guia dos Países Nórdicos de 2021.
E veio ainda acompanhada da atribuição a René Redzepi do “Michelin Chef Mentor Award” como reconhecimento pela enorme influência que teve (e tem) sobre os inúmeros chefs que passaram pela sua cozinha.
Um feito absolutamente notável para René Redzepi – mais um.
Mas quem verdadeiramente está de parabéns é o próprio Guia Michelin, por finalmente ter conseguido ultrapassar os preconceitos anti-nórdicos dos mais acérrimos defensores das cozinhas que René Redzepi deixou para trás – nomeadamente a francesa e a espanhola, mas não só – a fim de reconhecer aquilo que para muitos sempre foi óbvio: o NOMA é um restaurante três estrelas!
Ver também:
Mads Kleppe, Head Sommelier do NOMA – fevereiro 2020
Após a decisão do governo dinamarquês de autorizar a reabertura dos restaurantes – mantendo embora as fronteiras fechadas – foi conhecida esta sexta-feira a estratégia de René Redzepi para o regresso do NOMA.
Numa primeira fase – e até data a anunciar – o restaurante propriamente dito vai continuar fechado. Ou seja, não vai ser retomada a Seafood Season, cuja conclusão estava prevista para o dia 13 de junho. E, ao que parece, pelo menos por agora, também não irá a acontecer a subsequente, e já vendida, Vegetable Season, inicialmente agendada para os meses de julho, agosto e setembro.
Entretanto, nos jardins do NOMA, ao ar livre e em frente ao lago, René Redzepi vai abrir, de quinta a domingo, já a partir deste dia 21 de maio e durante o verão, um Wine Bar! Funcionará das 13h às 21h. Não aceitará reservas. E servirá ainda dois hambúrgueres: “the NOMA cheeseburger and the NOMA veggie burger – both are juicy and packed with umami, with a little bit of magic from our fermentation cellar, served on a freshly baked potato bun developed by our friends at GASOLINE GRILL”. Existindo também a possibilidade de takeaway.
O lago e o vinho natural do NOMA – fevereiro 2020
Daqui se retirando duas conclusões.
A primeira é a de que também o NOMA seguiu, à sua medida, a estratégia que a grande maioria dos restaurantes de fine dining – e não só – estão a adotar um pouco por todo o mundo para responder à crise gerada pela pandemia. Ou seja: Aproximação à comunidade local. Reinvenção do modelo de negócio. Comida de conforto. Takeaway. Prioridade aos espaços ao ar livre. E, claro, adiamento da reabertura – de facto, bem pode a Michelin prometer que estará na primeira linha do apoio aos restaurantes assim que eles reabram; infelizmente o problema é mais grave, é saber se eles irão sequer conseguir reabrir.
A outra conclusão é a de que esta inesperada decisão do NOMA de abrir um Wine Bar é uma extraordinária vitória… do vinho! Do vinho e também do Sommelier do NOMA. Como dizia Mads Kleppe, numa storie, no Instagram, é “Um sonho tornado realidade, hambúrguer e vinho natural»!
O lago e o jardim do NOMA – fevereiro 2020
Ver também:
Maio de 2018: Chef René Redzepi na cozinha do NOMA 2.0
Após ter encerrado o espaço originário – nas docas de Copenhaga – no final de 2016, René Redzepi abriu o novo NOMA em fevereiro de 2018.
Numa nova localização – não muito afastada da anterior, mas agora num cenário bucólico.
E com um novo conceito – três temporadas por ano.
Ou seja, três menus por ano.
- Seafood, durante o inverno e início da primavera.
- Vegetables, no verão.
- Game & Forest, do outono ao Natal.
De modo que, num exercício de memória e em complemento às fotografias que o Mesa do Chef já tinha então divulgado no Instagram – uma ferramenta muito útil para a satisfação instantânea mas que (à semelhança do Facebook) já não funciona tão bem como arquivo – aqui fica uma recordação do Seafood Menu da primeira temporada do novo NOMA.
Assumidamente temático – todos os momentos do jantar tiveram referências ao mar da Escandinávia.
E, em simultâneo, extremamente diversificado, lúdico e saboroso.
Um menu memorável, que marcou a reinvenção do outrora várias vezes melhor restaurante do mundo!
O novo NOMA
Sea snail broth | Caldo de búzio das Ilhas Faroé. Para beber diretamente da concha. Ácido. Cítrico. Herbáceo. Amanteigado. Quente. Aveludado.
Venus clams / Razor clams | Frio. Cítrico. Com um molho de groselha-branca.
Gérard Schueller, Pinot Blanc, 2016 | Rústico. Cítrico. Com acidez. Não filtrado.
Best of the mussel | Dentro do mexilhão, uma pasta de mexilhão. Sabor intensíssimo a mexilhão. Notas fumadas.
Head Dishwasher & Partner Ali Sonko, inexcedível anfitrião
Dried fruits and shrimps | Camarão em dois serviços. A cabeça, com um cremoso recheio. E o lombo – com morango verde, tomate, ameixa, cogumelos Cantharellus; e com um crocante de frango no topo. A acidez compensada pela natural doçura da fruta.
Cured trout roe and eggs | Morno. Na base da estrela-do-mar, gema de ovo de galinha – seca e levemente curada. Por cima, ovas de truta curadas e ameixa seca. Escondido, por baixo do centro da estrela-do-mar, há um sabor levemente picante: rábano.
Entretanto, no jardim, passou uma pequena raposa – desde a abertura do restaurante que tal sucedia todas as noites
Jellyfish | Prato frio. A medusa tem textura gelatinosa e sabor salgado. Três algas diferentes. Ovas.
Seafood platter: scallop / Mahogany clam | Vieira da Noruega, com um “fudge” (pela textura) de groselha-negra (a.k.a. blackcurrant ou cassis) e ovas. Mahogany clam da Noruega, com mais de 150 anos, num caldo de mexilhão e groselha-negra, com bagas em pickle, sementes e folhas também em pickle. E com a concha do lingueirão a fazer de colher.
Seafood platter: sea urchin / Limfjorden oyster | Ouriço-do-mar das Ilhas Faroé, com creme e óleo de rosas e, ainda, com sementes de abóbora, peladas e marinadas em água-de-rosas – enorme o contraste entre os sabores a iodo e a rosas, talvez o prato mais desafiante da noite. Ostra de Limfjorden, no norte da Dinamarca, com oxalis e green gooseberry.
Seafood platter: dried sea cucumber | Pepino-do-mar, de tal forma estranho e desconhecido que é trazido à mesa. Sendo servido desidratado, com mexilhão caramelizado, rábano e natas ácidas.
Horse mussel ragoût | Molusco, das Ilhas Faroé, com 25 anos de idade, logo, mais velho e, consequentemente, com uma carne mais rija, daí ser cozinhado num ragoût. Prato quente. Avinagrado. E com apontamentos crocantes.
Squid in seaweed butter | Lula, fatiada e cozinhada lentamente a baixa temperatura com cogumelos. A desfazer-se na boca. E com a surpresa de descobrir os deliciosos sucos, que, escorrendo pouco a pouco, se tinham escondido debaixo da esteira. Tão bons que o segredo foi levantar a esteira… e pedir uma colher.
Sea snails and roses | As indicações da cozinha são para cheirar, antes de começar a comer. Cheira a cera, num primeiro momento, e, depois, também, a vinagre. Salada complexa, com os búzios cujo caldo tinha aberto o jantar, com pétalas de rosa crocantes e com morangos verdes escondidos.
Head Sommelier Mads Kleppe
2009, Christian Tschida, Laissez-Faire | Uma barrica, 650 garrafas. Muito complexo. Muito poderoso. Bastante evoluído.
Head of the cod | O prato principal. Family style. Para partilhar. Para comer à mão. Caras de bacalhau, em sete cortes, com um molho de algas e cogumelos pleno de umami. E folhas novas de elm tree, para passar por três condimentos: um molho de rábano, uma mistura de especiarias, em que predomina o açafrão, e uma pasta de formigas.
Pear and roasted kelp ice cream | Sandes de gelado. Com a capa exterior crocante.
Daigo no Shizuku by Terada Honke – medieval organic Japanese sake | Cítrico. Fruta (prunus ume). Chouriço. Queijo. Fumo.
Cloudberries and pine cones | Sopa de cloudberries, ácida. Neve de iogurte. No topo, sorbet de cloudberries em forma de búzio (entretanto já derretido). E ainda três pequenas pinhas, cozinhadas em syrup, doces e com um intenso sabor a resina.
A seguir, a saída da sala de jantar…
… e a passagem para o lounge
Sugar kelp tart | Sabor intenso a algas. Fina capa estaladiça no topo.
Plankton cake | Para partilhar. Levíssimo.
Head Sommelier Mads Kleppe, sempre amável e presente até ao final da noite
O menu do jantar de 2 de maio de 2018, assinado pelo Chef René Redzepi, e o caranguejo de artesanato mexicano, evocativo do pop-up do NOMA no México, oferecido aos clientes como lembrança do primeiro Seafood Menu do NOMA 2.0
Fotografias: Marta Felino e Raul Lufinha
Ver também:
NOMA
Refshalevej 96, Copenhaga, Dinamarca
Chef René Redzepi
Chef René Redzepi na cozinha de testes do antigo NOMA (2013)
Num artigo publicado originalmente na edição de novembro de 2019 da Revista de Vinhos e agora disponível também no blog Mesa Marcada, Duarte Calvão começa por fazer o ponto da situação atual da cozinha:
«Parece claro que a cozinha atravessa a nível mundial um momento de estagnação. Depois da revolução da vanguarda espanhola do final dos anos 90, início dos anos 2000, do espalhar da sua influência um pouco por todo o mundo, não só a nível de técnicas, mas sobretudo de modo de encarar a cozinha, nada de muito excitante aconteceu depois. Alguns deixaram-se iludir com a “cozinha nórdica”, que, já passados uns anos, mostra que apenas legou uma maior importância dada aos vegetais e uma pretensa “simplicidade”, além da moda de chefes a vaguear pelos bosques em busca de ervinhas ou de panegíricos à “pureza” dos produtos locais, estejam na selva amazónica, nos mangais asiáticos ou nas florestas escandinavas. De preferência, todos fermentados, maturados ou defumados até à loucura».
Para depois continuar:
«A revolução da vanguarda espanhola, que tinha sido antecedida pela grande revolução da Nouvelle Cuisine de finais dos anos 60 e início dos 70 - centralizada inicialmente em França -, deixou-nos viciados em mudança, em novidade, em tentar descobrir em cada chefe um “revolucionário” que nos iria deslumbrar com as suas criações. Mas tudo indica que nada vai acontecer nos tempos mais próximos. De facto, como já escrevi anteriormente, os chefes parecem mais interessados em aparecer ligados a movimentos ambientais e sociais que lhes trazem “boa imprensa” do que em fazer evoluir a sua cozinha em termos de criatividade. Ou então em abrir segundos ou terceiros (quartos, quintos, o céu é o limite...) restaurantes, mesmo em locais longínquos, seja Singapura, Dubai ou Las Vegas».
E o texto continua num cativante registo – exagerada e provocadoramente caricatural – que merece ser lido até ao fim.
Mas o ponto que nos interessa realçar, e que não pode merecer a nossa concordância, é o facto de Duarte Calvão – mais uma vez – alinhar pelo discurso espanhol de sistemática desvalorização da cozinha que destronou a cozinha espanhola, ou seja, pelo discurso espanhol de sistemática desvalorização da Nova Cozinha Nórdica.
Claro que os espanhóis não gostam dela.
Mas aquilo a que assistimos atualmente a nível mundial não é «um momento de estagnação», é antes uma profunda vitória da Nova Cozinha Nórdica.
Ou, dito de outra forma, a emergência da Nova Cozinha Nórdica, com a sua desarmante simplicidade, levou ao esgotamento da dita vanguarda espanhola.
Sendo a vitória dos nórdicos de tal forma profunda que – passados tantos anos – até parece que não está a acontecer nada.
Mas está!
E muito!
A revolução nórdica foi de tal forma impactante que entretanto – para surpresa dos próprios nórdicos – os seus princípios ultrapassaram o território nórdico… e foram assimilados pelas cozinhas locais não-nórdicas como sendo princípios seus!
Na verdade, o triunfo da Nova Cozinha Nórdica foi tão grande que as outras cozinhas – incluindo a portuguesa (!) – assumiram como seus os princípios nórdicos… e passaram a aplicá-los ao seu próprio território!
Passaram a aplicá-los ao seu próprio território… e assumem-nos como sendo (não nórdicos mas) seus!
E que princípios são esses?
São os de 2004, criados por um conjunto de chefes – liderados pelo duo que tinha aberto no ano anterior um restaurante chamado NOMA (cujo nome junta as iniciais de “Nordisk Mad”, “comida nórdica”) nas docas de Copenhaga, Claus Meyer e René Redzepi – e resumidos num manifesto de dez pontos.
«The Manifesto for the New Nordic Kitchen:
1. To express the purity, freshness, simplicity and ethics that we would like to associate with our region
2. To reflect the different seasons in the meals
3. To base cooking on raw materials which characteristics are especially excellent in our climate, landscape and waters
4. To combine the demand for good taste in food with modern knowledge about health and well-being
5. To promote the Nordic products and the variety of Nordic producers and to disseminate the knowledge of the cultures behind them
6. To promote the welfare of the animals and a sound production in the sea and in the cultivated as well as wild landscapes
7. To develop new possible applications of traditional Nordic food products
8. To combine the best Nordic cooking procedures and culinary traditions with impulses from outside
9. To combine local self-sufficiency with regional exchange of high-quality goods
10. To cooperate with representatives of consumers, other cooking craftsmen, agriculture, fishing industry, food industry, retail and wholesale industry, researchers, teachers, politicians and authorities on this joint project to the benefit and advantage of all in the Nordic countries»
O objetivo era simplesmente o de criar uma identidade gastronómica na Escandinávia, à semelhança do que acontecia nomeadamente no sul da Europa com a cozinha mediterrânica.
Sendo os princípios bastante genéricos – aliás, ao contrário do que muita gente pensa, nem sequer abordam técnicas culinárias. Ou seja, os famosos fermentados, que tanto associamos aos nórdicos, não fazem parte da essência nem estão na génese da Nova Cozinha Nórdica.
De qualquer forma, como é óbvio, estes princípios não nascem de geração espontânea. Tudo é construído a partir do que já existe. Há muito tempo que, por exemplo, Ducasse já falava de “produto” e de “terroir”. E a grande influência terá sido Thomas Keller, com quem René Redzepi trabalhou no THE FRENCH LAUNDRY, em Napa Valley, na Califórnia.
Embora a grande novidade do manifesto da Nova Cozinha Nórdica não tenha sido tanto a de coligir todos estes princípios, foi muito mais a de os aplicar a um território concreto.
E depois, claro, o que deu projeção e massa crítica ao manifesto foi no ano seguinte, em 2005, os ministros do Nordic Council (que engloba a Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega, Suécia, Ilhas Faroé, Gronelândia e Ilhas de Alanda) terem adotado o manifesto como base e ideologia do “New Nordic Food Programme”, canalizando mais de três milhões de euros para programas que concretizaram na prática todos estes princípios.
Ora, como a revolução da Nova Cozinha Nórdica foi um sucesso a nível mundial, o passo seguinte foi os chefes e os empresários replicarem o modelo nórdico nos seus próprios países, transpondo esses princípios e essas práticas para o seu território e adotando-os como seus.
Os princípios estão tão corretos que foram desligados do seu território original… e transpostos para outros territórios não-nórdicos.
De tal forma que hoje em dia, já nem nos damos conta mas, quando falamos em produto, em matéria-prima, em “matéria” (como o chef João Rodrigues lhe gosta de chamar) isso é o triunfo dos nórdicos. Quando falamos de produto português, isso é o triunfo dos nórdicos. As pessoas até podem pensar que estão apenas a falar de produto português – e estão. Mas estão também a replicar o que os nórdicos fizeram com sucesso na Escandinávia. Estão a transpor para a realidade portuguesa o bem-sucedido exemplo da Nova Cozinha Nórdica (de só utilizar produtos locais).
Hoje em dia, já nem nos damos conta mas, quando preferimos os produtos da estação, isso é o triunfo dos nórdicos.
Hoje em dia, já nem nos damos conta mas, quando recusamos o sushi criativo com sabor, por exemplo, a morangos com chantilly e preferimos o sushi tradicional – que sabe mesmo a peixe e ao avinagrado arroz – isso é o triunfo dos nórdicos. Claro que os japoneses sempre o fizeram assim. Mas nós passámos a gostar dele dessa forma porque assimilámos os princípios da Nova Cozinha Nórdica.
Hoje em dia, já nem nos damos conta mas, quando preferimos pães e bolos com fermentações longas, isso é o triunfo dos nórdicos.
Hoje em dia, já nem nos damos conta mas, quando preferimos vinhos naturais, isso é o triunfo dos nórdicos.
Hoje em dia, já nem nos damos conta mas, quando preferimos a cerveja das microcervejeiras, isso é o triunfo dos nórdicos.
Hoje em dia, já nem nos damos conta mas, quando preferimos os queijos e os enchidos artesanais e de pequenos produtores, isso é o triunfo dos nórdicos.
Hoje em dia, já nem nos damos conta mas, quando preferimos uma alimentação saudável, isso é o triunfo dos nórdicos. Os nórdicos levam várias décadas de avanço no desenvolvimento da agricultura e da pecuária biológica.
Hoje em dia, já nem nos damos conta mas, quando preferimos práticas sustentáveis e que combatem o desperdício, isso é o triunfo dos nórdicos.
De facto, a vitória da Nova Cozinha Nórdica foi tão profunda que a revolução de 2004 deu lugar, como agora se diz, a um novo normal, que até parece ter existido desde sempre. E nalguns casos sim, são coisas tão óbvias que é claro que já vêm de trás. Mas foi o impacto da revolução da Nova Cozinha Nórdica que as impôs e, mais importante ainda, que as generalizou às outras cozinhas, um pouco por todo o mundo.
Agora estamos a replicar nos nossos territórios e à nossa medida aquilo que foi feito nos territórios nórdicos após a revolução da Nova Cozinha Nórdica.
Não é “estagnação”.
É uma profunda vitória dos nórdicos!
Fotografia: Marta Felino
A “nova cozinha nórdica” de René Redzepi está de regresso ao topo do mundo – depois de destronar o EL BULLI em 2010 e de também ter vencido em 2011 e 2012, o NOMA, em Copenhaga, foi agora considerado pelos mais de 900 jurados da revista britânica Restaurant como o melhor restaurante de 2014.
Claro que o conceito de “melhor” é puramente subjectivo e muito controverso – sendo porém indiscutível que dos dez melhores de 2014 (1 NOMA, 2 EL CELLER DE CAN ROCA, 3 OSTERIA FRANCESCANA, 4 ELEVEN MADISON PARK, 5 DINNER BY HESTON BLUMENTHAL, 6 MUGARITZ, 7 D.O.M., 8 ARZAK, 9 ALINEA, 10 THE LEDBURY) o restaurante dinamarquês é o que mais tem influenciado toda uma nova geração de cozinheiros, muitos deles replicando no seu “terroir” de origem o que René Redzepi faz na Escandinávia. Basta pensar nos chefs-recolectores…
Por vezes demasiado radical e difícil de compreender pelos povos do sul da Europa, habituados ao conforto dos produtos mediterrânicos, a cozinha do NOMA é, continua a ser, única – rejeita produtos não-nórdicos como o azeite, o tomate ou os citrinos; e quanto mais imitada tem sido, mais tem testado os limites de quem a quer conhecer. Se Ferran Adrià nos dava químicos, René Redzepi serve-nos camarões vivos e insectos…
P.S. 1 – Muitos parabéns também para Leonardo Pereira, o português Chef de Produto do NOMA que esteve há dias em Lisboa a cozinhar no grande segundo dia do Sangue na Guelra.
P.S. 2 – Muitos parabéns igualmente para Dieter Koschina: o seu Vila Joya, no Algarve, ficou no lugar 22! “House of Joy”, como lhe chamou o apresentador da cerimónia…
Ver também:
NOMA: (XL) Mais de seis horas depois…
Fotografias: © The World’s 50 Best Restaurants 2014 sponsored by S.Pellegrino & Acqua Panna and on Edition Photography, the official photographers for 2014
O guia Michelin pode continuar sem lhe dar a terceira estrela…
... e a revista Restaurant até pode descê-lo para número dois do mundo.
Mas René Redzepi continua no centro do universo gastronómico.
Agora foi a revista Time a considerá-lo... o chef mais influente da actualidade (!), conjuntamente com David Chang e Alex Atala.
NOMA | Strandgade 93, Copenhaga, Dinamarca | Chef René Redzepi
Numa barco-casa em frente ao NOMA, na zona portuária de Copenhaga, funciona uma das instituições que mais contribuiu para a afirmação mundial da nova cozinha nórdica, o Nordic Food Lab.
Criado em 2008 pelos fundadores do NOMA – o chef René Redzepi e o empresário gastronómico Claus Meyer – o Nordic Food Lab é um laboratório gastronómico que se dedica ao estudo da cozinha nórdica tradicional e moderna, ao nível dos ingredientes e das técnicas.
Sem fins lucrativos, é apoiado por entidades públicas e privadas, tendo uma lógica de cooperação e partilha de informação.
Nos últimos tempos, alguns dos temas investigados foram a fermentação dos alimentos e o consumo de insectos.
Fotografias: Marta Felino / Flash Food
Nordic Food Lab | The House Boat c/o NOMA, Strandgade 93, Copenhaga, Dinamarca
A capital dinamarquesa é uma cidade efervescente em termos gastronómicos. Eis algumas tendências que ficam de Copenhaga.
Cozinheiros a servir os pratos. Se os pratos têm que ser explicados ao cliente, então ninguém melhor para tal do que quem os confeccionou.
Sem toalhas. Informalidade total. O destaque está na comida.
Vegetais. E mais peixe do que carne. Mais vegetais do que proteínas animais – e mais peixe do que carne.
Práticas recolectoras. Os vegetais não provêm apenas da agricultura – muitas vezes são recolhidos directamente na natureza.
Biológicos. Para além de ser a cidade das bicicletas, Copenhaga é também a capital do biológico. Tudo pode ser 100% biológico. Até os cabeleireiros…
Alimentos fermentados. A prática ancestral de fermentação dos alimentos é um dos caminhos do futuro.
Vinhos naturais. Vinhos com a menor manipulação humana possível e sem químicos. Ser biológico é necessário mas muitas vezes já não é suficiente.
Cerveja artesanal. Sabores únicos.
Sobremesas muito pouco doces. A tendência é para reduzir drasticamente o consumo de açúcar. E utilizar antes a acidez dos produtos lácteos.
Fornecedores respeitados. Os fornecedores são vistos como parceiros, sendo expressamente mencionados nos menus e utilizados como símbolos de qualidade dos restaurantes.
Divulgação dos resultados das inspecções sanitárias. Todos os restaurantes estão obrigados à divulgação, inclusivamente on-line, dos resultados das inspecções sanitárias – as quais utilizam um sistema de smileys, de fácil leitura para o consumidor.
Fotografias: Denmark.dk e Findsmiley.dk
René Redzepi e Ljubomir Stanisic
Ljubo esteve a cozinhar no NOMA. E relata a experiência aqui.
Fotografia: PAPA KMS
NOMA | Strandgade 93, Copenhaga, Dinamarca | Chef René Redzepi
100 MANEIRAS | Lisboa, Portugal | Chef Ljubomir Stanisic
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