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O semanário Expresso escolheu esta semana os 100 portugueses com mais influência em 2012. Da economia à política, passando pelo desporto, a cultura, a ciência e a sociedade, o jornal elegeu quem “mais manda, marca e inspira” em Portugal, tendo pretendido fazer “uma lista dinâmica que espelhe o l’air du temps”.
Nestas listas, os nomes são sempre discutíveis e a margem de subjectividade acaba por ser elevada.
Contudo, é chocante que nos 100 eleitos não haja um único nome da cozinha portuguesa.
Numa altura em que a gastronomia portuguesa ganha cada vez maior visibilidade e reconhecimento não apenas internamente mas também no exterior, permitindo afirmar Portugal como destino gastronómico – e em que começa a ser consensual que a gastronomia também é cultura e que Portugal tem o melhor peixe do mundo – é triste constatar não ter sido possível ao Expresso encontrar um chef português que tenha marcado os últimos 12 meses.
Mas, bem vistas as coisas, é precisamente essa falta de influência da gastronomia na sociedade portuguesa que levou a que o IVA da restauração tivesse sido aumentado para a taxa máxima de 23%.
Sergi Arola no AROLA da Penha Longa Fotografia: BestTables
Em entrevista à Fugas do jornal Público de 23 de Junho de 2012, o chef catalão Sergi Arola (2 ** Michelin no SERGI AROLA GASTRO, em Madrid) desenvolveu um dos seus temas favoritos, o de que gastronomia é cultura:
“Para mim é tão frívolo um romance de Tom Wolfe como um festival gastronómico, com todo o respeito por Tom Wolfe, que gosto muito de ler.
Também não entendo que Leonard Cohen esteja nas páginas de cultura e o último grande restaurante gastronómico venha nas páginas do social. Não entendo. E gosto muito de Leonard Cohen, respeito muito a obra dele.
Desafio qualquer jornalista ou intelectual para um debate sobre a razão pela qual um disco de Bob Dylan é mais intelectual que um menu de Ferran Adrià. É muito mais complexo um menu de Ferran Adrià do que um disco de Bob Dylan… E adoro Dylan e tenho todos os discos dele e considero que depois de [Jack] Kerouac foi quem melhor soube explicar esse movimento que, goste-se ou não, condiciona e muda por completo o que é a cultura ocidental desde meados da década de 1950. Ou seja, se analiso toda a informação sensorial intelectual, cognitiva que está num menu de Ferran Adrià e a que está num disco de Bob Dylan, é evidente que há muito mais informação no primeiro do que no segundo, mais que não seja pela quantidade de sensações que passam por um menu gastronómico.”
AROLA | Penha Longa Hotel, Spa & Golf Resort, Estrada da Lagoa Azul, Sintra, Portugal | Chef Sergi Arola
Desenho: Orangeni
“A Gastronomia, tal como foi definida no século IV a.C. pelo grego Arquéstrato, é ‘a arte de saber apreciar os alimentos’, distinguindo-se da Culinária que é a arte de os cozinhar.”
GUIA GALP Os melhores restaurantes e vinhos de Portugal, Porto Editora, 2012
“There is a difference between dining and eating. Dining is an art. When you eat to get most out of your meal to please the palate just as well as to satiate the appetite, that, my friend, is dining.”
YUAN MEI, poeta, artista e gastrónomo chinês (1716-1797)
"Dining and eating, two pleasures I rarely combine, as they are too competing and interfere in my taking in the experience fully, the path to real understanding."
CHEF MATEO, 19 Jan. 2012
"Dining is and always was a great artistic opportunity."
FRANK LLOYD WRIGHT, arquitecto (1867-1959)
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