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Quinta da Bacalhôa Tinto 1980, a segunda colheita de um vinho histórico
O Quinta da Bacalhôa é um nome mítico na história do vinho em Portugal, foi o primeiro Cabernet Sauvignon feito “à moda de Bordéus”, no já longínquo ano de 1979 – rezando porém a lenda que no ano anterior, em 1978, foram produzidas algumas garrafas experimentais, as quais no entanto não chegaram sequer a ser rotuladas.
Sendo um vinho feito com 90% de Cabernet Sauvignon e 10% de Merlot, provenientes de uma vinha (então nova) virada a norte e vinificadas separadamente, estagiando sempre em barricas novas de carvalho francês.
E que na época causou imensa polémica, devido à utilização de castas francesas… num monumento nacional!
Ora, na última edição do ‘Encontro com o Vinho e Sabores’, em Lisboa, os enólogos da Bacalhôa Vasco Penha Garcia e Filipa Tomaz da Costa revisitaram o clássico Quinta da Bacalhôa Tinto e conduziram uma monumental prova vertical do chamado “bordalês de Setúbal”… que atravessou 4 décadas!
Dos anos 80, trouxeram o da colheita de 1980 (apenas 11,5% de teor alcoólico, muita fruta, notas de café e menta, ótima acidez, final fresco e longo), o de 1985 (ainda cheio de força) e o de 1987 (esmagador, complexo e completo, especiarias mas também muita fruta confitada, explosivo – verdadeiramente “bordalês”!).
Dos anos 90, já com outro perfil e com mais álcool, Vasco Penha Garcia e Filipa Tomaz da Costa apresentaram os de 1995 e 1998.
A partir do ano 2000, um novo registo, novamente mais “bordalês” – de que foram exemplos o da colheita de 2002 (com muitas notas de especiarias e de pimenta), o de 2004 (com taninos muitos redondos) e também o de 2007.
Por fim, da década atual, o magnífico 2010 – muito vivo e aos saltos.
E também o de 2014, ainda não lançado no mercado (!), que Vasco Penha Garcia e Filipa Tomaz da Costa fizeram questão de trazer para esta memorável vertical, a fim de mostrar como é um Quinta da Bacalhôa supernovo, logo no seu início – cheio de força, muitos taninos, imensa acidez!
Uma prova histórica… de um grande clássico!
Que continua – ainda hoje e tantos anos depois – um vinho poderoso e uma escolha seguríssima!
Enólogos Filipa Tomaz da Costa e Vasco Penha Garcia
10 vinhos, 4 décadas
Quinta da Bacalhôa Tinto: 1980, 1985, 1987, 1995, 1998, 2002, 2004, 2007, 2010, 2014
Paulo Laureano
No seu percurso de enólogo e produtor, Paulo Laureano encontrou no ‘terroir’ de excelência da Vidigueira as condições ideais para concretizar a tão ambicionada diferenciação dos seus vinhos.
“Conceito sempre difícil de definir – conforme explicou Paulo Laureano em discurso direto – o ‘terroir’ é fundamental para o entendimento da personalidade do vinho.”
“Inclui os diversos elementos físicos que condicionam o habitat da vinha: as plantas, o subsolo, a implantação da vinha, a topografia, as interações entre todos estes fatores e a sua relação com o macroclima que, por seu turno, influencia o mesoclima e, consequentemente, o microclima.”
E inclui também o fator humano.
“Há uma dimensão adicional do conceito de ‘terroir’, mais difícil de avaliar, que é emocional e que se traduz no sentimento do produtor em relação ao próprio ‘terroir’. À forma como o sente. Obviamente, para tornar todo o conceito percetível, é necessário que cada produtor conheça de forma profunda aquilo que condiciona a qualidade das suas uvas e dos seus vinhos e que seja capaz de o demonstrar.”
Paulo Laureano trouxe o ‘terroir’ da Vidigueira… ao Encontro com o Vinho e Sabores 2015
Ora a Vidigueira é diferente do resto do Alentejo, desde logo, nos solos – os solos da Vidigueira são uma mancha única de xisto. O que dá ao vinho mineralidade e frescura. E que, numa região quente e seca como o Alentejo, significa equilíbrio.
Depois, a topografia também é diferente, porque a Vidigueira é um local de pequenas colinas, o que permite a zonagem, permite a diferenciação interna, permite que os vinhos sejam construídos na vinha.
E há também o clima, que, fruto da sua localização única, é quente durante o dia mas tem noites frias, sendo essa amplitude térmica essencial para dar acidez ao vinho, ainda para mais numa região quente e seca como o Alentejo.
Para além das vinhas, claro… que, na feliz expressão de Paulo Laureano, “têm muita experiência” – sendo estas vinhas velhas essenciais para dar concentração, estrutura e caráter aos vinhos da Vidigueira.
E, por fim, há o elemento pessoal e emocional do próprio produtor. Sendo aqui muito marcante a decisão ‘ideológica’ de Paulo Laureano de só trabalhar com castas portuguesas, o que reforça ainda mais o caráter diferenciador e identitário dos seus vinhos.
Paulo Laureano e a Vidigueira, terra de brancos
Concretizando este enquadramento teórico...
... em vinhos concretos...
... há duas castas brancas que brilham bem alto no ‘terroir’ alentejano da Vidigueira.
Desde logo, a casta Verdelho, que Paulo Laureano vai buscar à Madeira e depois planta na Vidigueira.
Com um nariz atlântico e uma boca alentejana…
... a marca Vidigueira está bem presente na mineralidade e na frescura do Verdelho de Paulo Laureano.
Verdelho na Vidigueira:
Paulo Laureano Genus Generationes Maria Teresa Laureano Verdelho 2014
E a casta Antão Vaz, muito difundida por todo o país mas cuja expressão final depende to ‘terroir’ em que esteja inserida.
E que na Vidigueira de Paulo Laureano tem no nariz um perfil mais mineral (por causa do solo de xisto) e mais maduro (devido ao clima)…
… mas que depois na boca explode de frescura…
… sendo uma casta muito gastronómica – pede comida!
Antão Vaz na Vidigueira:
Paulo Laureano Reserve 2014
Dolium Escolha Branco 2013
Dolium Escolha Branco 2006… a longevidade e a capacidade de evolução dos brancos da Vidigueira
Contudo...
... apesar de a Vidigueira ser uma terra de brancos…
... também tem tintos!
Paulo Laureano e os tintos da Vidigueira
E para mostrar que o ‘terroir’ também é uma aprendizagem e uma descoberta…
… Paulo Laureano começou por apresentar uma mini prova vertical do Dolium Reserva Tinto…
… bem representativa do seu percurso como produtor.
É que, se há vinho que ilustra o percurso de Paulo Laureano em busca de um ‘terroir’ e do que ele pode representar em termos de identidade e diferenciação, esse vinho é o Dolium Reserva Tinto.
Com efeito, no início o Dolium, pensado como um vinho elegante que pudesse envelhecer, tinha como casta base Aragonez (80%), à qual Paulo Laureano, para fazer a diferença, juntava Cabernet Sauvignon.
Porém, em 2004 deu-se uma mudança profunda no perfil do vinho: Paulo Laureano substituiu Cabernet Sauvignon por Trincadeira, passando o lote a ser então composto por Aragonez e Trincadeira numa lógica próxima dos 50-50, o que lhe trouxe uma maior macieza, elegância e frescura.
De tal forma, aliás, que Paulo Laureano foi aumentando a percentagem de Trincadeira – em 2009 era cerca de 80%, complementada com um pouco de Aragonez e Alicante Bouschet.
Tendo-se a Trincadeira transformado na alma do Dolium… e feito com que o Dolium apresente um carácter Vidigueira bem marcado, sendo um vinho fresco, elegante e com grande capacidade de envelhecimento – a edição mais recente é de 2012, tendo estagiado 12 meses em barrica e ficado um ano e meio a evoluir em garrafa.
Mini vertical de Dolium Reserva Tinto:
Dolium Reserva 2001 – a terceira colheita, Aragonez (80%) e Cabernet Sauvignon (20%)
Dolium Reserva 2004 – o ano da mudança, Trincadeira em vez Cabernet Sauvignon
Dolium Reserva 2009 – Trincadeira alma do Dolium; e carácter Vidigueira
Dolium Reserva 2012
Mas a Vidigueira de Paulo Laureano, sendo um ‘terroir’ único…
… tem também vinhos tintos únicos.
Desde logo, o varietal de Tinta Grossa, que mais ninguém faz – é mesmo um vinho único no mundo!
Casta local, permite fazer um vinho com um grande exotismo aromático, que depois na boca apresenta taninos bem marcantes e imensa frescura.
Um grande vinho, não apenas pela identidade e pelo carácter… mas também porque é mesmo muito bom, com uma excelente acidez!
Tinta Grossa só na Vidigueira, é um vinho único no mundo:
Paulo Laureano Selectio Tinta Grossa 2011
Paulo Laureano Selectio Tinta Grossa 2012
Contudo, o caráter da Vidigueira também é percetível nos vinhos que todo o país faz, como é o caso da Touriga Nacional.
Que aqui, neste Alentejo diferente, se distingue pela frescura e pela elegância!
Touriga Nacional na Vidigueira, fresca e elegante:
Paulo Laureano Selectio Touriga Nacional 2012
Paulo Laureano Selectio Touriga Nacional 2013
Por fim, Paulo Laureano apresentou o exemplo do Alfrocheiro, um vinho que só é feito porque o ‘terroir’ da Vidigueira o permite.
Com um aroma a frutas frescas e a especiarias (proveniente da própria casta, não da barrica) é depois exuberante e atrativo na boca, com os taninos bem vivos, imensa frescura e muitas amoras silvestres!
Alfrocheiro na Vidigueira:
Paulo Laureano Genus Generationes Miguel Maria Laureano Alfrocheiro 2011
Paulo Laureano Genus Generationes Miguel Maria Laureano Alfrocheiro 2013
Aberta ao público e muito pedagógica, foi uma excelente apresentação de Paulo Laureano no Encontro com o Vinho e Sabores 2015 promovido pela Revista de Vinhos!
É que o produtor alentejano não veio propriamente dar os seus vinhos a provar.
Paulo Laureano veio antes explicar a sua ‘filosofia’ e o seu modo minimalista de desenhar vinhos…
… acreditando num ‘terroir’ de excelência – a Vidigueira…
… e nas castas portuguesas!
E tendo depois ilustrado a mais-valia desse ‘terroir’…
… com vinhos que demonstravam na perfeição o que tinha sido previamente apresentado!
Um grande momento!
Os 14 vinhos em prova:
Paulo Laureano Genus Generationes Maria Teresa Laureano Verdelho 2014
Paulo Laureano Reserve 2014
Dolium Escolha Branco 2013
Dolium Escolha Branco 2006
Dolium Reserva 2001
Dolium Reserva 2004
Dolium Reserva 2009
Dolium Reserva 2012
Paulo Laureano Selectio Tinta Grossa 2011
Paulo Laureano Selectio Tinta Grossa 2012
Paulo Laureano Selectio Touriga Nacional 2012
Paulo Laureano Selectio Touriga Nacional 2013
Paulo Laureano Genus Generationes Miguel Maria Laureano Alfrocheiro 2011
Paulo Laureano Genus Generationes Miguel Maria Laureano Alfrocheiro 2013
Mais pormenores aqui.
‘Incógnito’ e ‘Homenagem a Hans Christian Andersen’
O ‘Incógnito’ é um vinho histórico, foi o primeiro Syrah a ser produzido no Alentejo.
Estávamos em 1998, quando a casta ainda não era permitida na região…
Daí o nome provocador dado ao vinho.
Contudo, apesar de a casta Syrah não ser identificada...
... no contra-rótulo era dada uma pista... para quem soubesse ler na vertical:
Select fruit from
Young vines, well
Ripened,
And hand
Harvested
Dessa colheita inicial de ‘Incógnito’, nas Cortes de Cima já só há… 4 garrafas!
Pelo que a prova começou em 1999, o segundo ano de produção do ‘Incógnito’.
E o vinho, 15 anos depois, está fantástico! Muito polido e com uma profunda maturação… mas com aromas que vão para lá da fruta: pimenta, cacau…
Depois a prova vertical prosseguiu com a colheita de 2002 – isto porque o ‘Incógnito’ só é produzido nos melhores anos.
E, a seguir, foi feito o contraponto entre dois Syrah de 2004… o ‘Incógnito’ e o ‘Homenagem a Hans Christian Andersen’.
2004 – ‘Homenagem a Hans Christian Andersen’ e ‘Incógnito’
Embora igualmente 100% Syrah, o ‘Homenagem a Hans Christian Andersen’ tem um perfil diferente.
Para além de ser proveniente de uma outra parcela (que aliás não é sempre a mesma nem é uma vinha única) é um vinho mais dócil e frutado, com menos intensidade e concentração.
Sendo feito para ficar pronto mais rapidamente do que o ‘Incógnito’ – embora sempre com acidez, de modo a que não se torne enjoativo.
‘Homenagem a Hans Christian Andersen’, 2004
Depois, mais dois Syrah em confronto directo mas de anos distintos: o ‘Incógnito’ de 2005… e o ‘Homenagem a Hans Christian Andersen’ de 2007, ano em que não houve ‘Incógnito’… e em que parte do ‘Homenagem (…)’ foi feito a partir da parcela que produz o ‘Incógnito’!
‘Incógnito’ 2005 vs ‘Homenagem a Hans Christian Andersen’ 2007
A seguir, foram provados ambos os vinhos da mítica colheita de 2008 das Cortes de Cima – aliás, o fundador considera o ‘Incógnito’ de 2008 como o melhor de sempre!
2008 – ‘Homenagem a Hans Christian Andersen’ e ‘Incógnito’
… e depois provaram-se os de 2009.
Com a particularidade de o ‘Incógnito’ 2009 ter sido um dos 25 grandes vinhos que fizeram parte da prova comemorativa dos 25 anos da Revista de Vinhos, que decorreu no dia seguinte, igualmente no Encontro com o Vinho e Sabores 2014.
2009 – ‘Homenagem a Hans Christian Andersen’ e ‘Incógnito’
A seguir, chegou o ‘Homenagem a Hans Christian Andersen’ de 2010…
… e finalmente o recém-lançado ‘Incógnito’ de 2011, que as Cortes de Cima pretendem que seja o paradigma a seguir no futuro – elegância, frescura, acidez, estrutura, alegria mas também fruta.
‘Incógnito’ 2011
Tendo a sessão sido conduzida por Hamilton Reis, o enólogo das Cortes de Cima…
… que no final ainda partilhou um segredo com a audiência:
«Nas Cortes de Cima, todos os Reserva têm ‘Incógnito’!»
Hamilton Reis, o enólogo das Cortes de Cima
No total foram provados, comentados e debatidos 12 vinhos Syrah.
Uma prova histórica…
… o recordar da polémica e da revolução que foi a introdução da casta Syrah, estrangeira e tinta, no terroir de brancos da Vidigueira...
... e a confirmação de que no Alentejo é possível fazer Syrah de guarda, de estrutura, de aprefeiçoamento na garrafa!
Os vinhos em prova:
‘Incógnito’ – colheitas 1999, 2002, 2004, 2005, 2008, 2009 e 2011
‘Homenagem a Hans Christian Andersen’ – colheitas 2004, 2007, 2008, 2009 e 2010
Aida Roda, a produtora
Preciosa sugestão de Vasco Percheiro Rocha, os vinhos biológicos da Quinta da Caldeirinha foram uma agradável descoberta na visita ao Encontro com o Vinho e Sabores 2014, organizado pela Revista de Vinhos no Centro de Congressos de Lisboa.
São provenientes de vinhas plantadas a 600 metros de altitude, em Figueira de Castelo Rodrigo, no Parque Natural do Douro Internacional.
E, para além dos monoscasta de Aragonês, Touriga Nacional, Syrah e Cabernet Sauvignon…
… merece especial destaque o sedutor Vinha Velha de 2009, muito fresco e elegante!
Quinta da Caldeirinha Vinha Velha 2009, tinto, Beira Interior D.O.P.
Nuno Oliveira Garcia
A sessão de harmonização de sobremesas e vinhos que decorreu paralelamente ao “Encontro com o Vinho e Sabores 2013” foi conduzida por Nuno Oliveira Garcia, redactor e membro do painel de provas da Revista de Vinhos.
O qual desde logo explicou as duas formas clássicas de harmonizar sobremesas e vinho: por harmonia ou concordância; e por contraste.
Tendo depois proposto no mínimo dois vinhos diferentes para cada uma das cinco sobremesas.
Cinco sobremesas: Pão de Ló Coberto de Vizela (na posição das 12h00), Bolo-Rei da Confeitaria Nacional, tarte de amêndoa da marca “A Tarte”, O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo e Pudim Abade de Priscos
Para o Pão de Ló Coberto de Vizela, também conhecido por “Bolinhol”, os dois vinhos sugeridos foram o Colecção Privada Domingos Soares Franco Espumante Moscatel Roxo Rosé 2012, numa linha de harmonia; e o Blandy's Malmsey 10 Years Old, por contraste.
Com o Bolo-Rei da Confeitaria Nacional, a proposta foi confrontar o Porto Ferreira Duque de Bragança Tawny 20 Anos (um Vinho do Porto que “cheira a Bolo-Rei”, pleno de frutos secos e confitados) com o Bacalhôa Moscatel Roxo 2001, que ligou especialmente bem com os sabores de laranja desta sobremesa típica do Natal.
Para a tarde de amêndoa, foram testados três vinhos: o Tawny, o Moscatel Roxo e o Madeira Malvasia.
Com O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo, duas harmonizações: o Moscatel Roxo, recriando a tradicional ligação chocolate/laranja; e o Warre's LBV 2002.
Finalmente, com o poderoso Pudim Abade de Priscos da Doçaria da Cruz de Pedra, em Braga, acabaram por ser experimentados os cincos vinhos da prova – mesmo sem consenso, a preferência da sala pareceu ter recaído no Madeira, por ter sido aquele que terá dado mais luta ao denso pudim.
Cinco vinhos: Colecção Privada Domingos Soares Franco Espumante Moscatel Roxo Rosé 2012, Blandy's Malmsey 10 Years Old, Porto Ferreira Duque de Bragança Tawny 20 Anos, Bacalhôa Moscatel Roxo 2001 e Warre's LBV 2002
Aberta ao público, foi uma prova marcada pela elevada qualidade das sobremesas... e dos vinhos.
Fotografias: Marta Felino / Flash Food
Fernando Melo
O crítico gastronómico e especialista em vinhos Fernando Melo conduziu a sessão de harmonização de conservas e vinhos que decorreu paralelamente ao “Encontro com o Vinho e Sabores 2013” e foi aberta ao público...
... tendo optado por utilizar uma única marca de conservas, de modo a assegurar a coerência da prova.
A eleita foi a Pinhais – fundada em 1920 mas pouco conhecida em Portugal, é uma fábrica de conservas de elevada qualidade em Matosinhos que continua a seguir os métodos tradicionais e exporta a quase totalidade da produção.
Em termos de vinhos, a ideia de Fernando Melo foi propor dois caminhos para cada iguaria – mas sempre com o conselho de nos familiarizarmos primeiro com o vinho antes de avançarmos para o peixe.
Sardinha em azeite
A prova começou com uma sardinha em azeite, conjugada com dois vinhos brancos com acidez para cortar a gordura da proteína e do azeite: um Alvarinho e um Arinto, este último mais fresco e incisivo.
Filete de cavala
Depois, um filete de cavala com duas harmonizações diferentes e pouco comuns mas extremamente interessantes para dar luta à gordura do peixe: um Colheita Tardia doce e um Porto Seco.
Sardinha com tomate
A terceira conserva já tinha tomate.
Pelo que a sugestão foi fazer a harmonização com um Sauvignon Blanc pleno de notas vegetais, sem prejuízo da comparação com os vinhos já propostos até aqui.
Petinga picante
A seguir apareceu o picante.
Tendo Fernando Melo proposto duas formas de reação a este intensificador de sabor: ou aumentando a estrutura (através de um branco com madeira) ou aumentando o álcool (com um Madeira).
Mas neste prova não se foi lá só com estrutura. O Madeira ganhou claramente o combate – e, mais notável ainda, sempre sem destruir os sabores do peixe e do picante.
Sardinha picante com picles
Finalmente, chegou uma sardinha picante com picles.
Para a qual Fernando Melo sugeriu um vinho branco complexo e rico – tendo proposto o Quinta da Alorna Arinto & Chardonnay Reserva 2012, em que, a par da elegância da madeira e da fruta madura do Chardonnay, brilhava a frescura do Arinto, de modo a neutralizar a sardinha.
Alvarinho Portal do Fidalgo branco 2012
Prova Régia Premium Arinto branco 2012
Monte da Ravasqueira Late Harvest Viognier 2012
Burmester Extra Dry White Porto
Mar da Palha Sauvignon Blanc 2011
Barbeito Verdelho Reserva Velha 10 Anos (Meio Seco)
Quinta do Boição Arinto Reserva branco (Ano?)
Quinta da Alorna Arinto & Chardonnay Reserva branco 2012
Ora, de tudo isto, se há uma ideia capaz de resumir a muito interessante e prolongada sessão de Fernando Melo...
... para além da grande qualidade das conservas Pinhais...
...essa ideia é a de que a escolha do vinho pode tornar memorável a degustação de algo aparentemente tão simples quanto uma conserva de peixe.
Luís Antunes
Para a sessão de harmonização de carnes fumadas e vinhos que decorreu paralelamente ao “Encontro com o Vinho e Sabores 2013”, o redactor e membro do painel de provas da Revista de Vinhos, Luís Antunes, optou por um modelo diferente do seguido para os queijos…
… tendo desafiado a audiência a testar toda a comida com todos os vinhos – 6 carnes fumadas com 6 vinhos cada uma, o que deu 36 harmonizações diferentes.
As seis carnes fumadas foram:
– Presunto de Chaves;
– Presunto de Barrancos (mais salgado do que o de Chaves);
– Chouriço Ponte de Lima;
– Salpicão Ponte de Lima;
– Paio do Lombo Alentejano; e
– Salsichão de Porco Alentejano.
Os vinhos…
Tendo Luís Antunes proposto seis vinhos com características distintas:
– Espumante (Murganheira Chardonnay Távora-Varosa Bruto 2006);
– Verde branco, sem madeira (Anselmo Mendes Loureiro vinho verde branco 2012);
– Branco com madeira (Morgado de Santa Catherina Reserva Bucelas branco 2011);
– Rosé (Conde de Vimioso Tejo rosé 2012);
– Tinto leve, sem madeira (Quinta da Vegia Dão tinto 2010); e
– Tinto robusto, com madeira (Herdade de São Miguel Reserva Alentejo tinto 2009).
… e as seis carnes fumadas: Presunto de Chaves (na posição das 12h00), Presunto de Barrancos, Chouriço Ponte de Lima, Salpicão Ponte de Lima, Paio do Lombo Alentejano e Salsichão de Porco Alentejano
Ora, como a prova foi menos orientada e condicionada, como foi mais livre e aberta, os resultados acabaram por ser mais subjectivos, tendo gerado animados debates na sala e votações renhidas.
Pelo que a conclusão mais indiscutível talvez tenha sido a da grande versatilidade gastronómica do espumante para acompanhar estes sabores intensos a sal, a fumo e a pimentão – o espumante acaba por ficar bem com tudo; nem sempre será a melhor harmonização de todas mas nunca deixa ficar mal.
Durante a prova foram ainda úteis dois conselhos práticos de Luís Antunes:
– mastigar prolongadamente estas carnes fumadas, de sabores fortes e densos;
– e depois manter o vinho na boca mais tempo do que o habitual, para limpar completamente o palato e preparar a garfada seguinte.
João Paulo Martins
Jornalista da Revista de Vinhos e autor do guia Vinhos de Portugal, coube a João Paulo Martins conduzir a sessão de harmonização de queijos e vinhos promovida no âmbito do “Encontro com o Vinho e Sabores 2013” e aberta ao público.
Para tal, João Paulo Martins escolheu cinco queijos diferentes e dois vinhos por queijo, de modo a que se percebessem as correspondentes diferenças de harmonização.
Cinco queijos: Chèvre (na posição das 12h00), Serra da Estrela, queijo da ilha açoriana da Graciosa, Terrincho e Stilton
O Chèvre funcionou melhor com um branco novo (Senhoria Alvarinho 2010, Ideal Drinks) do que com um tinto jovem (Campolargo Alvarelhão 2012).
O mesmo se passou com o Serra da Estrela: o branco com madeira (Pasmados 2009, José Maria da Fonseca) resultou melhor do que o tinto jovem e de taninos polidos (Duorum 2012) – tendo sido rejeitados os tintos de taninos vivos, dado que matariam o queijo.
O tinto voltou ainda a perder nos queijos picantes: o LBV Quinta do Noval Unfiltered 2007 ligou melhor com um queijo da ilha açoriana da Graciosa e com o Terrincho do que o clássico alentejano Cartuxa Reserva 2009, da Fundação Eugénio de Almeida.
Finalmente, com o queijo azul inglês Stilton, um colheita tardia (Grandjó Late Harvest 2008, da Real Companhia Velha) e um vintage novo (S.J Vintage Port Single Quinta 2011, da Quinta de São José). Duas soluções diferentes que resultaram bastante bem.
Oito vinhos: Senhoria Alvarinho branco 2010, Campolargo Alvarelhão tinto 2012, Pasmados branco 2009, Duorum tinto 2012, Cartuxa Reserva tinto 2009, Quinta do Noval Unfiltered LBV 2007, Grandjó Late Harvest 2008, S.J Vintage Port Single Quinta 2011
Desta profícua sessão com João Paulo Martins, para além da renovada tentativa de se desfazer o mito generalizado de que a melhor ligação do queijo é com vinho tinto – não é! – ficaram ainda três grandes ideias:
– os queijos mais frescos (por exemplo, Chèvre) pedem vinhos brancos frutados e novos;
– os queijos com mais gordura (por exemplo, Serra da Estrela) exigem brancos com madeira; e
– os queijos mais fortes (Stilton, Roquefort, Picante de Castelo Branco, etc.) necessitam de vinhos doces (por exemplo, colheita tardia ou vintage).
Fotografias: Marta Felino / Flash Food
É já este fim-de-semana que se realiza em Lisboa o “Encontro com o Vinho e Sabores 2013”, o maior evento vínico organizado em Portugal, com a presença de 400 produtores e mais de 2.000 vinhos em prova.
E como não há vinho sem comida, esta também estará em destaque.
Para além da degustação de queijos, presuntos, enchidos, azeites e outros, haverá ainda quatro sessões temáticas conduzidas por jornalistas da Revista de Vinhos dedicadas à harmonização do vinho com a comida: queijos, carnes fumadas, conservas e sobremesas.
Aberto ao grande público de 8 a 10 de Novembro numa organização da Revista de Vinhos, o evento já vai na sua 14.ª edição consecutiva e terá lugar Centro de Congressos de Lisboa, na Junqueira.
No dia 7 haverá ainda um jantar de homenagem a António dos Santos Mota, o decano dos jornalistas e críticos de vinhos em Portugal, com 88 anos.
Ver também:
Harmonização de queijos e vinhos... por João Paulo Martins
Harmonização de carnes fumadas e vinhos... por Luís Antunes
Harmonização de conservas e vinhos... por Fernando Melo
Harmonização de sobremesas e vinhos... por Nuno Oliveira Garcia
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