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Alentejo à prova do tempo

por Raul Lufinha, em 17.10.18

Sete vinhos alentejanos que resistiram ao tempo e uma surpresa no final

Sete vinhos alentejanos que resistiram ao tempo... e uma surpresa no final

Depois de uma sessão dedicada a alguns dos icónicos topos de gama do Alentejo, a outra prova comentada do dia dos “Vinhos do Alentejo em Lisboa” dirigido aos profissionais do sector demonstrou a excelente capacidade de envelhecimento dos vinhos alentejanos.

Conduzida igualmente por Manuel Moreira, começou com dois brancos.

Primeiro, o ainda jovem, elegante e complexo Tapada do Chaves Vinhas Velhas 2008, lançado no mercado há apenas quatro meses (!) com o PVP de 75 €.

E depois o delicioso Dolium Escolha 2006, 100% Antão Vaz, da Paulo Laureano Vinus, cheio de fruta madura, confitada mesmo – e que já se encontra esgotado no produtor.

Passando para os tintos, começou por ser servido o Cortes de Cima 2008, com frescura e com as notas de café e tabaco da casta syrah muito presentes.

A que se seguiu o ainda jovem Gloria Reynolds Cathedral 2004, essencialmente Alicante Bouschet com um pouco de Trincadeira.

Já do século passado, chegou o Portalegre 1996, um VQPRD DOC produzido pela Adega Cooperativa de Portalegre a partir de Aragonês, Grand Noir, Periquita e Trincadeira, com fruta e frescura.

Igualmente dos anos 90 e ainda com força, o Reguengos (Garrafeira dos Sócios) 1994, da Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz.

Tendo depois a prova culminado com o Adega Cooperativa de Borba Reserva Tinto 1980, um vinho em grande forma, já com alguma compota mas também com muita frescura.

Entretanto, fora do alinhamento inicialmente previsto, Manuel Moreira trouxe ainda uma surpresa: a segunda edição do Monte Velho, de 1992, da Herdade do Esporão, um vinho que não foi pensado para durar tanto tempo… mas que ainda estava vivo!

Sete vinhos, mais um surpresa no final, que demonstraram uma excelente capacidade de envelhecimento.

Comprovando que o Alentejo não é apenas vinho novo. 

 

Ver também:

 

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publicado às 08:38

Paulo Laureano e o ‘terroir’ da Vidigueira

por Raul Lufinha, em 04.11.15

Paulo Laureano

Paulo Laureano

No seu percurso de enólogo e produtor, Paulo Laureano encontrou no ‘terroir’ de excelência da Vidigueira as condições ideais para concretizar a tão ambicionada diferenciação dos seus vinhos.

“Conceito sempre difícil de definir – conforme explicou Paulo Laureano em discurso direto – o ‘terroir’ é fundamental para o entendimento da personalidade do vinho.”

“Inclui os diversos elementos físicos que condicionam o habitat da vinha: as plantas, o subsolo, a implantação da vinha, a topografia, as interações entre todos estes fatores e a sua relação com o macroclima que, por seu turno, influencia o mesoclima e, consequentemente, o microclima.”

E inclui também o fator humano.

“Há uma dimensão adicional do conceito de ‘terroir’, mais difícil de avaliar, que é emocional e que se traduz no sentimento do produtor em relação ao próprio ‘terroir’. À forma como o sente. Obviamente, para tornar todo o conceito percetível, é necessário que cada produtor conheça de forma profunda aquilo que condiciona a qualidade das suas uvas e dos seus vinhos e que seja capaz de o demonstrar.”

Paulo Laureano

Paulo Laureano trouxe o ‘terroir’ da Vidigueira… ao Encontro com o Vinho e Sabores 2015

Ora a Vidigueira é diferente do resto do Alentejo, desde logo, nos solos – os solos da Vidigueira são uma mancha única de xisto. O que dá ao vinho mineralidade e frescura. E que, numa região quente e seca como o Alentejo, significa equilíbrio.

Depois, a topografia também é diferente, porque a Vidigueira é um local de pequenas colinas, o que permite a zonagem, permite a diferenciação interna, permite que os vinhos sejam construídos na vinha.

E há também o clima, que, fruto da sua localização única, é quente durante o dia mas tem noites frias, sendo essa amplitude térmica essencial para dar acidez ao vinho, ainda para mais numa região quente e seca como o Alentejo.

Para além das vinhas, claro… que, na feliz expressão de Paulo Laureano, “têm muita experiência” – sendo estas vinhas velhas essenciais para dar concentração, estrutura e caráter aos vinhos da Vidigueira.

E, por fim, há o elemento pessoal e emocional do próprio produtor. Sendo aqui muito marcante a decisão ‘ideológica’ de Paulo Laureano de só trabalhar com castas portuguesas, o que reforça ainda mais o caráter diferenciador e identitário dos seus vinhos.

Paulo Laureano e os brancos da Vidigueira

Paulo Laureano e a Vidigueira, terra de brancos

Concretizando este enquadramento teórico...

... em vinhos concretos...

... há duas castas brancas que brilham bem alto no ‘terroir’ alentejano da Vidigueira.

Desde logo, a casta Verdelho, que Paulo Laureano vai buscar à Madeira e depois planta na Vidigueira.

Com um nariz atlântico e uma boca alentejana…

... a marca Vidigueira está bem presente na mineralidade e na frescura do Verdelho de Paulo Laureano.

Verdelho

Verdelho na Vidigueira:

Paulo Laureano Genus Generationes Maria Teresa Laureano Verdelho 2014

 

E a casta Antão Vaz, muito difundida por todo o país mas cuja expressão final depende to ‘terroir’ em que esteja inserida.

E que na Vidigueira de Paulo Laureano tem no nariz um perfil mais mineral (por causa do solo de xisto) e mais maduro (devido ao clima)…

… mas que depois na boca explode de frescura…

… sendo uma casta muito gastronómica – pede comida!

Antão Vaz na Vidigueira

Antão Vaz na Vidigueira:

Paulo Laureano Reserve 2014

Dolium Escolha Branco 2013

Dolium Escolha Branco 2006… a longevidade e a capacidade de evolução dos brancos da Vidigueira

 

Contudo...

... apesar de a Vidigueira ser uma terra de brancos…

... também tem tintos!

Paulo Laureano e os tintos da Vidigueira

Paulo Laureano e os tintos da Vidigueira

E para mostrar que o ‘terroir’ também é uma aprendizagem e uma descoberta…

… Paulo Laureano começou por apresentar uma mini prova vertical do Dolium Reserva Tinto…

… bem representativa do seu percurso como produtor.

É que, se há vinho que ilustra o percurso de Paulo Laureano em busca de um ‘terroir’ e do que ele pode representar em termos de identidade e diferenciação, esse vinho é o Dolium Reserva Tinto.

Com efeito, no início o Dolium, pensado como um vinho elegante que pudesse envelhecer, tinha como casta base Aragonez (80%), à qual Paulo Laureano, para fazer a diferença, juntava Cabernet Sauvignon.

Porém, em 2004 deu-se uma mudança profunda no perfil do vinho: Paulo Laureano substituiu Cabernet Sauvignon por Trincadeira, passando o lote a ser então composto por Aragonez e Trincadeira numa lógica próxima dos 50-50, o que lhe trouxe uma maior macieza, elegância e frescura.

De tal forma, aliás, que Paulo Laureano foi aumentando a percentagem de Trincadeira – em 2009 era cerca de 80%, complementada com um pouco de Aragonez e Alicante Bouschet.

Tendo-se a Trincadeira transformado na alma do Dolium… e feito com que o Dolium apresente um carácter Vidigueira bem marcado, sendo um vinho fresco, elegante e com grande capacidade de envelhecimento – a edição mais recente é de 2012, tendo estagiado 12 meses em barrica e ficado um ano e meio a evoluir em garrafa.

Mini vertical de Dolium Reserva Tinto

Mini vertical de Dolium Reserva Tinto:

Dolium Reserva 2001 – a terceira colheita, Aragonez (80%) e Cabernet Sauvignon (20%)

Dolium Reserva 2004 – o ano da mudança, Trincadeira em vez Cabernet Sauvignon

Dolium Reserva 2009 – Trincadeira alma do Dolium; e carácter Vidigueira

Dolium Reserva 2012

 

Mas a Vidigueira de Paulo Laureano, sendo um ‘terroir’ único…

… tem também vinhos tintos únicos.

Desde logo, o varietal de Tinta Grossa, que mais ninguém faz – é mesmo um vinho único no mundo!

Casta local, permite fazer um vinho com um grande exotismo aromático, que depois na boca apresenta taninos bem marcantes e imensa frescura.

Um grande vinho, não apenas pela identidade e pelo carácter… mas também porque é mesmo muito bom, com uma excelente acidez!

Tinta Grossa na Vidigueira, um vinho único no mundo

Tinta Grossa só na Vidigueira, é um vinho único no mundo:

Paulo Laureano Selectio Tinta Grossa 2011

Paulo Laureano Selectio Tinta Grossa 2012

 

Contudo, o caráter da Vidigueira também é percetível nos vinhos que todo o país faz, como é o caso da Touriga Nacional.

Que aqui, neste Alentejo diferente, se distingue pela frescura e pela elegância!

Tinta Grossa na Vidigueira, um vinho único no mundo

Touriga Nacional na Vidigueira, fresca e elegante:

Paulo Laureano Selectio Touriga Nacional 2012

Paulo Laureano Selectio Touriga Nacional 2013

 

Por fim, Paulo Laureano apresentou o exemplo do Alfrocheiro, um vinho que só é feito porque o ‘terroir’ da Vidigueira o permite.

Com um aroma a frutas frescas e a especiarias (proveniente da própria casta, não da barrica) é depois exuberante e atrativo na boca, com os taninos bem vivos, imensa frescura e muitas amoras silvestres!

Alfrocheiro na Vidigueira

Alfrocheiro na Vidigueira:

Paulo Laureano Genus Generationes Miguel Maria Laureano Alfrocheiro 2011

Paulo Laureano Genus Generationes Miguel Maria Laureano Alfrocheiro 2013

 

Aberta ao público e muito pedagógica, foi uma excelente apresentação de Paulo Laureano no Encontro com o Vinho e Sabores 2015 promovido pela Revista de Vinhos!

É que o produtor alentejano não veio propriamente dar os seus vinhos a provar.

Paulo Laureano veio antes explicar a sua ‘filosofia’ e o seu modo minimalista de desenhar vinhos…

… acreditando num ‘terroir’ de excelência – a Vidigueira…

… e nas castas portuguesas!

E tendo depois ilustrado a mais-valia desse ‘terroir’…

… com vinhos que demonstravam na perfeição o que tinha sido previamente apresentado!

Um grande momento!

Os 14 vinhos de Paulo Laureano em prova

Os 14 vinhos em prova:

Paulo Laureano Genus Generationes Maria Teresa Laureano Verdelho 2014

Paulo Laureano Reserve 2014

Dolium Escolha Branco 2013

Dolium Escolha Branco 2006

Dolium Reserva 2001

Dolium Reserva 2004

Dolium Reserva 2009

Dolium Reserva 2012

Paulo Laureano Selectio Tinta Grossa 2011

Paulo Laureano Selectio Tinta Grossa 2012

Paulo Laureano Selectio Touriga Nacional 2012

Paulo Laureano Selectio Touriga Nacional 2013

Paulo Laureano Genus Generationes Miguel Maria Laureano Alfrocheiro 2011

Paulo Laureano Genus Generationes Miguel Maria Laureano Alfrocheiro 2013

 

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publicado às 02:02

Os 5 brancos de Paulo Laureano para o Verão 2015

por Raul Lufinha, em 02.08.15

Paulo Laureano

Paulo Laureano

Continuando a apostar nas castas portuguesas…

… e nos terroirs da Vidigueira e de Bucelas…

… o enólogo e produtor Paulo Laureano sugere cinco vinhos brancos seus para beber à mesa este Verão.

 

1 – Bucelas Branco 2014

Lote de Arinto e Esgana-Cão (também conhecida por Sercial)…

… em que o grande desafio foi conter a acidez da casta Esgana-Cão, dando-lhe estrutura.

Sem madeira, são 8.000 garrafas plenas de frescura e mineralidade...

... com fortes notas cítricas!

Bucelas Branco

Paulo Laureano Bucelas Branco 2014

 

2 – Premium Vinhas Velhas 2014

Feito a partir de uma seleção de Arinto, Antão Vaz e Fernão Pires…

… mostra todo o caráter da Vidigueira...

... num vinho muito equilibrado.

Premium Vinhas Velhas

Paulo Laureano Premium Vinhas Velhas Branco 2014

 

3 – Reserve 2014

Harmonioso varietal que demonstra o porquê da casta Antão Vaz tão interessante na Vidigueira.

Tendo tido um ligeiro estágio de quatro meses em barricas novas de carvalho francês, não para mostrar a madeira mas apenas para tornar ainda mais forte a expressão da casta.

Reserve

Paulo Laureano Reserve Branco 2014

 

4 – Maria Teresa Laureano Verdelho 2014

Só Verdelho…

… mas trazida por Paulo Laureano da ilha da Madeira e depois enxertada em vinhas velhas da Vidigueira.

Daí que tenha um aroma menos floral, menos exuberante…

… e mais fino, mais elegante, mais atlântico.

Embora depois a boca seja moldada pela Vidigueira.

Sem madeira, são apenas 3879 garrafas…

… numa homenagem de Paulo Laureano à sua filha Maria Teresa.

Maria Teresa Laureano Verdelho

Paulo Laureano Genus Generationes Maria Teresa Laureano Verdelho 2014

 

5 – Dolium Escolha 2013

Apenas Antão Vaz…

… mas de uma vinha muito velha!

Sendo um vinho que precisa de longo tempo em garrafa antes de vir para o mercado – após fermentar em barricas novas de carvalho francês durante oitos meses, ainda estagiou um ano em garrafa.

Muito elegante...

... mostra a excelência da casta Antão Vaz na Vidigueira!

Sugerindo Paulo Laureano que seja bebido um pouco mais quente, pelos 12ºC.

Dolium Escolha

Dolium Escolha 2013

 

Ver também:

O rosé contracorrente de Paulo Laureano

 

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publicado às 01:56


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