Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Chef João Oliveira, o azeite D.P.C., o pão artesanal e uma manteiga fumada …
Entre o peixe e a carne, chega o momento do pão – pão, azeite e manteiga.
Um excelente pão artesanal de trigo e centeio, feito na cozinha do VISTA pelo chefe pasteleiro Carlos Fernandes, com uma ótima acidez, bem cozido, e apresentando uma côdea crocante, sem estar queimada.
Acompanhado por três azeites monovarietais alentejanos da marca D.P.C., de Daniel Proença de Carvalho, produzidos a partir de azeitonas das variedades Galega, Frantoio e Cobrançosa, com os quais podemos igualmente brincar aos oleólogos e construir o nosso próprio lote.
E ainda por uma manteiga – apenas uma – absolutamente extraordinária!
… à qual retirou a campânula, perfumando a mesa com um refrescante aroma a pinho
Na verdade, à primeira vista, nem nos damos conta de que estamos perante uma manteiga!
Com efeito, após terem sido colocados na mesa os três azeites, João Oliveira chegou de mãos cheias à Mesa do Chef – numa trazia o pão, na outra uma base de vidro com uma campânula completamente embaciada e opaca.
Porém, quando João Oliveira retira essa campânula, liberta-se uma nuvem que perfuma toda a mesa de um refrescante aroma, não a fumo ou a fumeiro, mas mesmo a pinho e a pinhal!
E então sim, conseguimos ver a manteiga!
Tem a forma de uma pinha!
Precisamente por ter sido trabalhada e fumada com pinho!
Sendo uma manteiga de grande qualidade.
Que João Oliveira explicou ser de mistura.
Uma mistura única, feita na cozinha do VISTA, juntando três diferentes manteigas: de vaca, cabra e ovelha.
Sentindo-se efetivamente, a par do perfume do pinhal, a cremosidade da manteiga de vaca, o toque de acidez da manteiga de cabra e ainda aquele sabor intenso, cheio de untuosidade, da manteiga de ovelha!
Sendo, pois, esta memorável manteiga, claramente, um dos pontos altos do jantar no VISTA!
Pão de trigo e centeio | Azeite D.P.C. | Manteiga de vaca, cabra e ovelha
(continua)
Fotografias: Marta Felino e Raul Lufinha
Ver também:
VISTA
Hotel Bela Vista, Av. Tomás Cabreira, Praia da Rocha, Portimão, Algarve, Portugal
Chef João Oliveira
João Oliveira
Localizado sobre a falésia da Praia da Rocha e integrado no histórico Hotel Bela Vista – um palacete construído no início do século XX – o restaurante VISTA é um Relais & Châteaux absolutamente notável.
A cozinha, segura e criativa, está a um nível muito elevado, sendo liderada por João Oliveira, que anteriormente passou pelo LARGO DO PAÇO, THE YEATMAN e VILA JOYA.
E a sala – fortíssima, ao nível do melhor que se faz em Portugal e no estrangeiro – assenta em três experientes pilares: o chefe de sala Tiago Pereira, o sempre bem-disposto Diego Gonzalez e o escanção Miguel Martins.
Praia da Rocha
Em Agosto, o menu ‘Mar Adentro’ – um dos dois menus de degustação do VISTA, onde também é possível escolher à carta – começou com uma «pequena surpresa» de João Oliveira composta por uma falsa cenoura (era uma saborosa mistura de vegetais), uma mini beterraba recheada com mousse de aves e, por último, uma pérola branca, com recheio de leitão e mousse de laranja, cujo exterior era feito com minúsculas pérolas de arroz que lhe davam uma textura crocante!
1.º snack
A seguir, «outra pequena surpresa do chef!»
Sabores intensos e bem distintos, num delicado duo de cannelloni estaladiços.
De um lado, uma mousse de sardinha, pimento verde e pó de tomate seco.
Do outro, mousse de cavala e ovas de bacalhau.
2.º snack
Depois, João Oliveira faz chegar à mesa uma refrescante sopa fria de maçã com wasabi contendo uma carnuda ostra do Moinho dos Ilhéus, no Parque Natural da Ria Formosa, e também cavala, ambas marinadas em citrinos.
3.º snack
E, por último, um brioche com carpaccio de polvo, pimentão-doce e creme de cataplana.
4.º snack
No VISTA, a seleção de pães é bastante ampla e de imensa qualidade, para além de estarem fresquíssimos – nesta noite, havia um flat bread ótimo, com sementes de sésamo preto, branco e dourado; pão alentejano fatiado; bolinhas de trigo; um excelente e untuoso pão rústico de azeitona, em forma de caracol; e ainda umas bolinhas rústicas com sementes de girassol e de sésamo, branco e dourado.
A seleção de manteigas incluiu duas variedades, uma intensa manteiga de vaca fumada com madeira de cerejeira e uma manteiga de cabra.
Tendo a experiência sido ainda enriquecida com a degustação de uma seleção de três excelentes azeites monovarietais alentejanos da marca D.P.C., de Daniel Proença de Carvalho, completamente distintos entre si e com diferentes intensidades de sabor, produzidos a partir das azeitonas Galega, Cordovil e Cobrançosa.
Pães, azeites, manteigas
Entrando-se então no menu ‘Mar Adentro’ propriamente dito – o qual não inclui qualquer prato de carne – no momento dedicado à gamba violeta da costa, João Oliveira optou por servi-lo antes com um magnífico carabineiro, deixando inalterado o resto da composição.
No fundo, um cannellone de abacate com mousse de sapateira, uma nage cítrica de lima e clementinas, uma seleção de algas e pérolas de maracujá.
Carabineiro… no prato da gamba violeta
Depois, um grande momento, com a raia cozinhada a baixa temperatura, creme de couve-flor, nabo e a textura crocante das alcachofras tostadas.
Sendo finalizado na mesa com um intenso e maravilhoso creme de alcaparras, ao qual João Oliveira juntou previamente óleo de salsa!
Excelente!
Raia
Fora do menu ‘Mar Adentro’, João Oliveira deu-nos ainda a provar o seu delicioso salmonete negro dos Açores, também chamado ‘salmonete de fundo’, com um intenso sabor a algas e a iodo, ao qual o chef do VISTA junta um fabuloso molho de carabineiro!
Salmonete negro dos Açores
E que, por sugestão do escanção Miguel Martins, foi acompanhado de um branco do Dão, o Porta dos Cavaleiros Reserva, das Caves São João, de 1985…!
Ou seja, um vinho... um ano mais velho do que o chef João Oliveira!
E que trouxe à memória um Porta dos Cavaleiros sem data mas provavelmente da década de 60 provado com João Paulo Martins, bem como uma gloriosa prova de brancos antigos nas Caves São João em que foram abertas garrafas de Porta dos Cavaleiros de 1973 e 1984.
Servido decantado, este 85 estava em grande forma, já evoluído e oxidado mas extremamente rico e complexo, com uma acidez vibrante e uma mineralidade que ligaram na perfeição com os sabores marinhos do prato de João Oliveira!
De facto, o vinho escolhido por Miguel Martins enalteceu a criação de João Oliveira... e tornou o momento inesquecível!
Miguel Martins, Diego Gonzalez e o Porta dos Cavaleiros Reserva branco 1985
Merecendo ainda destaque o elevadíssimo nível do serviço de vinhos de Miguel Martins no VISTA – copos, temperaturas, quantidades (sempre reduzidas, para o vinho não aquecer), refill permanente... enfim, tudo como deve ser!
Notável é também o facto de no VISTA se poder provar a copo... praticamente toda a carta de vinhos do restaurante!
Sendo igualmente de louvar que Miguel Martins inclua vinhos velhos no menu das harmonizações vínicas que complementam os menus de degustação!
Porta dos Cavaleiros Reserva branco 1985
Passando para o último momento salgado do menu ‘Mar Adentro’, chegou a pescada de anzol, com lagostim, vegetais grelhados – curgete, cebola doce de verão e milho – e, ainda, dois saborosos cremes, um de milho torrado, outro de Champagne e caviar!
Pescada de anzol
A seguir, como pré-sobremesa, a evocação das laranjas do Algarve numa compota fina e elegante servida no prato num registo de maior doçura, o qual contrasta com a frescura de umas falsas laranjas trazidas numa laranjeira estilo bonsai e que na verdade são um sorbet de lima-laranja, mousse de chocolate branco e gel de laranja.
Pretendendo João Oliveira que, à mesa, misturemos ambos os sabores e temperaturas, mergulhando a falsa laranja na compota.
O que resulta melhor ainda quando Miguel Martins e Diego Gonzalez resolveram juntar-lhes um terceiro elemento cítrico, o licor de laranjas do Algarve Orangea servido muito gelado!
Excelente!
Diego Gonzalez e Miguel Martins
Laranjeira-bonsai… com as falsas laranjas
Compota de laranja
Orangea, licor de laranjas do Algarve
As Laranjas do Algarve
Para sobremesa, outro grande momento de João Oliveira – com efeito, é o chef do VISTA que também assina as sobremesas – num refrescante conjunto em que sobressaíam os sabores da maçã verde, trabalhados de várias formas e apresentados em diversas texturas.
E que era finalizado na mesa com uma apurada sopa de maçã verde com especiarias!
Maçã verde
Por fim, com a aromática e digestiva infusão do chef (feita com 8 ervas e 8 especiarias) ou com o café – ambos incluídos nos menus de degustação – chegam também as mignardises: sabores conventuais nos bricks com beurre noisette, creme de ovo, açúcar e canela; pâtes de fruits de citrinos feitos por João Oliveira no VISTA com kumquat e lima kaffir, entre outros; e deliciosas trufas de chocolate branco com queijo de cabra!
Mignardises
Mas ir a um restaurante não é uma experiência que se esgote simplesmente no ato de comer.
Um dos momentos mais gratificantes de uma grande refeição é depois poder comentá-la e debatê-la com quem a idealizou e executou – como sucedeu no VISTA a seguir a um jantar arrebatador.
João Oliveira
Desconcertante foi a reação do chef quando alguém lhe perguntou pela estrela.
Com um brilho nos olhos, João Oliveira respondeu:
«A estrela é a minha mãe, que está no Céu!»
Sem dúvida, João – uma estrela brilhante e bem à vista!
Sendo certo que, continuando com este nível de cozinha e de serviço, em breve o restaurante liderado pelo filho irá ter uma outra – mas daquelas de que os cozinheiros tanto gostam, daquelas do guia!
Fotografias: Raul Lufinha e Marta Felino
VISTA | Hotel Bela Vista, Av. Tomás Cabreira, Praia da Rocha, Portimão, Portugal | Chef João Oliveira
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.