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Sete vinhos alentejanos que resistiram ao tempo... e uma surpresa no final
Depois de uma sessão dedicada a alguns dos icónicos topos de gama do Alentejo, a outra prova comentada do dia dos “Vinhos do Alentejo em Lisboa” dirigido aos profissionais do sector demonstrou a excelente capacidade de envelhecimento dos vinhos alentejanos.
Conduzida igualmente por Manuel Moreira, começou com dois brancos.
Primeiro, o ainda jovem, elegante e complexo Tapada do Chaves Vinhas Velhas 2008, lançado no mercado há apenas quatro meses (!) com o PVP de 75 €.
E depois o delicioso Dolium Escolha 2006, 100% Antão Vaz, da Paulo Laureano Vinus, cheio de fruta madura, confitada mesmo – e que já se encontra esgotado no produtor.
Passando para os tintos, começou por ser servido o Cortes de Cima 2008, com frescura e com as notas de café e tabaco da casta syrah muito presentes.
A que se seguiu o ainda jovem Gloria Reynolds Cathedral 2004, essencialmente Alicante Bouschet com um pouco de Trincadeira.
Já do século passado, chegou o Portalegre 1996, um VQPRD DOC produzido pela Adega Cooperativa de Portalegre a partir de Aragonês, Grand Noir, Periquita e Trincadeira, com fruta e frescura.
Igualmente dos anos 90 e ainda com força, o Reguengos (Garrafeira dos Sócios) 1994, da Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz.
Tendo depois a prova culminado com o Adega Cooperativa de Borba Reserva Tinto 1980, um vinho em grande forma, já com alguma compota mas também com muita frescura.
Entretanto, fora do alinhamento inicialmente previsto, Manuel Moreira trouxe ainda uma surpresa: a segunda edição do Monte Velho, de 1992, da Herdade do Esporão, um vinho que não foi pensado para durar tanto tempo… mas que ainda estava vivo!
Sete vinhos, mais um surpresa no final, que demonstraram uma excelente capacidade de envelhecimento.
Comprovando que o Alentejo não é apenas vinho novo.
Ver também:
Na sala do BON BON, o anfitrião Rui Silvestre e João Oliveira
Para João Oliveira também foi uma estreia!
Cozinheiro com larga experiência em eventos da Rota das Estrelas, fruto da sua passagem pelas cozinhas do LARGO DO PAÇO, THE YEATMAN e VILA JOYA, foi esta porém a primeira vez que o chefe do VISTA apresentou um prato seu no festival gastronómico que celebra as distinções atribuídas em Portugal pelo guia Michelin.
Sendo este convite, formulado por Rui Silvestre, mais um sinal do cada vez maior reconhecimento que o seu extraordinário trabalho à frente do restaurante do Hotel Bela Vista, na Praia da Rocha, em Portimão, tem vindo a alcançar.
De modo que, para este jantar tão especial da Rota das Estrelas no BON BON, João Oliveira fez questão de trazer do VISTA um dos seus mais bem conseguidos momentos.
Com efeito, num prato não apenas complexo mas também completo, que confirmou o excelente momento de forma que patenteava este verão, João Oliveira apresentou os sabores intensos e aveludados do lagostim, levemente cítrico, com caviar imperial, variações de couve-flor e o toque final marinho das salicórnias e dos salty fingers.
Memorável!
João Oliveira braseando os lagostins
Mão de Buda, o mais icónico dos citrinos…
… cuja casca é ralada sobre os lagostins
Couve-flor
Lagostim
Caviar Imperial…
… colocado por Rui Silvestre – o anfitrião também deu uma ajuda aos chefes convidados
Couve-flor…
… e está pronto para ir para a mesa
O prato de João Oliveira na Rota das Estrelas 2016 que decorreu no BON BON
Lagostim, Couve-Flor, Caviar
Para fazer companhia aos sabores delicados do lagostim e à sedosa couve-flor de João Oliveira, o escanção da Garrafeira Estado D’Alma responsável pelas harmonizações vínicas do primeiro dia da Rota das Estrelas no BON BON escolheu o jovem Sauvignon Blanc Cortes de Cima.
O qual, contudo, não é um branco qualquer… como, aliás, nem sequer é o típico branco alentejano!
Efetivamente, o vinho escolhido por João Chambel apresenta um perfil de maior frescura e acidez, sendo feito pelo enólogo Hamilton Reis a partir de uma vinha de apenas Sauvignon Blanc cultivada não na já de si fresca Vidigueira mas antes no ainda mais fresco Alentejo litoral, somente a três quilómetros do Oceano Atlântico, perto de Vila Nova de Milfontes.
João Chambel
Cortes de Cima Sauvignon Blanc, branco, 2015
Tendo sido muito marcante esta presença de João Oliveira na Rota das Estrelas logo no ano em que o BON BON, liderado por Rui Silvestre, alcançou a sua primeira estrela Michelin!
Na cozinha do BON BON, João Oliveira e Rui Silvestre
Ver também:
2016, primeira Rota das Estrelas no BON BON
Bela Vista Hotel & Spa – Relais & Châteaux, Av. Tomás Cabreira, Praia da Rocha, Portimão, Portugal
Chef João Oliveira
Urbanização Cabeço de Pias, Sesmarias, Carvoeiro, Portugal
Chef Rui Silvestre
‘Incógnito’ e ‘Homenagem a Hans Christian Andersen’
O ‘Incógnito’ é um vinho histórico, foi o primeiro Syrah a ser produzido no Alentejo.
Estávamos em 1998, quando a casta ainda não era permitida na região…
Daí o nome provocador dado ao vinho.
Contudo, apesar de a casta Syrah não ser identificada...
... no contra-rótulo era dada uma pista... para quem soubesse ler na vertical:
Select fruit from
Young vines, well
Ripened,
And hand
Harvested
Dessa colheita inicial de ‘Incógnito’, nas Cortes de Cima já só há… 4 garrafas!
Pelo que a prova começou em 1999, o segundo ano de produção do ‘Incógnito’.
E o vinho, 15 anos depois, está fantástico! Muito polido e com uma profunda maturação… mas com aromas que vão para lá da fruta: pimenta, cacau…
Depois a prova vertical prosseguiu com a colheita de 2002 – isto porque o ‘Incógnito’ só é produzido nos melhores anos.
E, a seguir, foi feito o contraponto entre dois Syrah de 2004… o ‘Incógnito’ e o ‘Homenagem a Hans Christian Andersen’.
2004 – ‘Homenagem a Hans Christian Andersen’ e ‘Incógnito’
Embora igualmente 100% Syrah, o ‘Homenagem a Hans Christian Andersen’ tem um perfil diferente.
Para além de ser proveniente de uma outra parcela (que aliás não é sempre a mesma nem é uma vinha única) é um vinho mais dócil e frutado, com menos intensidade e concentração.
Sendo feito para ficar pronto mais rapidamente do que o ‘Incógnito’ – embora sempre com acidez, de modo a que não se torne enjoativo.
‘Homenagem a Hans Christian Andersen’, 2004
Depois, mais dois Syrah em confronto directo mas de anos distintos: o ‘Incógnito’ de 2005… e o ‘Homenagem a Hans Christian Andersen’ de 2007, ano em que não houve ‘Incógnito’… e em que parte do ‘Homenagem (…)’ foi feito a partir da parcela que produz o ‘Incógnito’!
‘Incógnito’ 2005 vs ‘Homenagem a Hans Christian Andersen’ 2007
A seguir, foram provados ambos os vinhos da mítica colheita de 2008 das Cortes de Cima – aliás, o fundador considera o ‘Incógnito’ de 2008 como o melhor de sempre!
2008 – ‘Homenagem a Hans Christian Andersen’ e ‘Incógnito’
… e depois provaram-se os de 2009.
Com a particularidade de o ‘Incógnito’ 2009 ter sido um dos 25 grandes vinhos que fizeram parte da prova comemorativa dos 25 anos da Revista de Vinhos, que decorreu no dia seguinte, igualmente no Encontro com o Vinho e Sabores 2014.
2009 – ‘Homenagem a Hans Christian Andersen’ e ‘Incógnito’
A seguir, chegou o ‘Homenagem a Hans Christian Andersen’ de 2010…
… e finalmente o recém-lançado ‘Incógnito’ de 2011, que as Cortes de Cima pretendem que seja o paradigma a seguir no futuro – elegância, frescura, acidez, estrutura, alegria mas também fruta.
‘Incógnito’ 2011
Tendo a sessão sido conduzida por Hamilton Reis, o enólogo das Cortes de Cima…
… que no final ainda partilhou um segredo com a audiência:
«Nas Cortes de Cima, todos os Reserva têm ‘Incógnito’!»
Hamilton Reis, o enólogo das Cortes de Cima
No total foram provados, comentados e debatidos 12 vinhos Syrah.
Uma prova histórica…
… o recordar da polémica e da revolução que foi a introdução da casta Syrah, estrangeira e tinta, no terroir de brancos da Vidigueira...
... e a confirmação de que no Alentejo é possível fazer Syrah de guarda, de estrutura, de aprefeiçoamento na garrafa!
Os vinhos em prova:
‘Incógnito’ – colheitas 1999, 2002, 2004, 2005, 2008, 2009 e 2011
‘Homenagem a Hans Christian Andersen’ – colheitas 2004, 2007, 2008, 2009 e 2010
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