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Xavier Charrier
No bistrot francês LA PARISIENNE, no centro de Lisboa, agora com a chegada do tempo frio e chuvoso, os pratos frescos de Xavier Charrier começam progressivamente a ceder o seu lugar às sugestões mais reconfortantes.
Carpaccio de Robalo | Com maracujá, azeite de sésamo e lima
Sopa de Peixe Caseira | A famosa Sopa de Cebola do LA PARISIENNE ganhou uma concorrente à altura! Em versão DIY, há que juntar o queijo Emmental, os croûtons e a maionese de alho e caril
Ovo ‘Meurette’ | Um clássico da Borgonha: ovo escalfado em vinho tinto, tradicionalmente Pinot Noir
Cavala à Niçoise | Predominando o sabor a funcho
Bochechas de Porco | Cozinhadas lenta e deliciosamente em vinho tinto. E acompanhadas de batata-doce e queijo azul. O prato da noite!
Pera cozida em Vinho do Porto | Com gelado de baunilha e bolacha caseira
Café gourmand caseiro | Em que as mignardises foram crumble de pera; bolachas sablé, com manteiga e flor de sal; e trufa de chocolate
Os vinhos do jantar | São João Espumante Bruto Rosé 2014 / Quinta da Ponte Pedrinha Branco 2015 / Lua Cheia em Vinhas Velhas Reserva Branco 2011 / Pegos Claros Reserva Tinto 2013 / Azul Portugal Porto Tawny 10 Years Old / Caves São João Aguardente Vínica Velhíssima 1966
Tomás Caldeira Cabral (responsável pela seleção de vinhos) & Xavier Charrier | A dupla do jantar
Ver também:
Paris em Lisboa (2014)
Largo Rafael Bordalo Pinheiro, 18, Lisboa, Portugal
Chef Xavier Charrier
Sidney Schutte servindo um snack do LIBRIJE'S ZUSJE (2**) no Conrad... tal como o faz em Amesterdão
O holandês Sidney Schutte é o chef do LIBRIJE'S ZUSJE, restaurante do Waldorf Astoria Amsterdam que, apenas sete meses após a abertura, foi distinguido, de uma só vez, com duas estrelas Michelin.
Convidado por Heinz Beck para participar no Gourmet Culinary Extravaganza do Conrad Algarve, Sidney Schutte foi um dos chefs que cozinhou com o anfitrião no jantar de abertura do festival, no GUSTO.
E que depois no dia seguinte, no jantar central do evento, o Underground Culinary Extravaganza, teve ainda a seu cargo uma das seis stations de live cooking dos aperitivos, a par do próprio chef anfitrião e ainda de José Avillez, Jacob Jan Boerma, Roel Lintermans e Matt Tebbutt.
Tendo Sidney Schutte preparado, ao vivo e em plena garagem do Conrad Algarve, um snack do LIBRIJE'S ZUSJE.
O qual depois serviu da mesma forma que o apresenta à mesa em Amesterdão: nuns troncos!
Aliás, nos mesmos troncos!
Sendo o delicioso snack composto por duas ‘bolachas’ crocantes de pele de galinha com um cremoso recheio de mousse de fígado, igualmente de galinha, que era complementado com o sabor salgado do bacon e o toque levemente doce das passas.
Chicken Liver with Raisins, Chicken Skin and Bacon
Convidado por António Lopes, Head Sommelier do Conrad Algarve, para participar na seleção vínica do Gourmet Culinary Extravaganza, Miguel Martins, escanção no VISTA, restaurante do Hotel Bela Vista, na Praia da Rocha, e proprietário da Garrafeira Sommelier, em Lagos, foi o responsável pela harmonização do snack de Sidney Schutte.
Ora, para ligar com o sabor do fígado, a solução mais óbvia e consensual seria um colheita tardia.
Mas Miguel Martins resolveu arriscar e fazer diferente!
Tendo ido à procura de um vinho alternativo ao colheita tardia… mas que curiosamente apresentasse uma característica essencial do colheita tardia, de modo a garantir que a ligação funcionava.
Pelo que a solução mais intuitiva seria então ir buscar um vinho que, não sendo embora um colheita tardia, tivesse a característica da doçura. Como sucede, por exemplo, com os licorosos.
Mas, numa jogada de maior risco, Miguel Martins foi antes à procura… da acidez!
Nesta harmonização, o que Miguel Martins queria do colheita tardia era a acidez (e naturalmente também a complexidade), para cortar a gordura.
Tendo ido encontrá-la, muito mais intensa, num tinto!
O Frei João Reserva, das Caves São João, da colheita de 1980.
O único tinto dos aperitivos… e, simultaneamente, a garrafa mais antiga do jantar!
Um vinho bastante complexo e evoluído, que porém, apesar dos seus quase 40 anos, continua muito vivo e elegante, apresentando no final uma acidez fantástica!
Com a ligação ao snack a resultar muito bem!
Foi, pois, um grande momento a fechar os snacks do Underground Culinary Extravaganza – de tal forma que poderíamos perfeitamente ter ficado o resto da noite a apreciar as crackers de Sidney Schutte e o Frei João Reserva das Caves São João...!
Miguel Martins
Frei João Reserva tinto 1980
Ver também:
A extravagância de jantar… na garagem do hotel
Heinz Beck extravagante no Conrad Algarve
Waldorf Astoria Amsterdam, Herengracht 542-556, Amesterdão, Holanda
Chef Sidney Schutte
GUSTO by Heinz Beck
Hotel Conrad Algarve, Estrada da Quinta do Lago, Portugal
Chef Heinz Beck, Chef Residente Daniele Pirillo
Roel Lintermans 1*
Para a noite das extravagâncias na garagem do Conrad Algarve, Roel Lintermans, head chef do LES SOLISTES by Pierre Gagnaire, no Waldorf Astoria Berlin, trouxe da capital alemã dois momentos muito especiais.
Primeiro, uns saborosos canapés de atum.
E depois, preparada no momento, uma complexa e deliciosa sopa de abóbora trabalhada com foie gras, caril verde, compota de tomate, manga… e bacalhau!
Pumpkin soup / Foie gras with green curry, tomato jam, diced mango, cod petals
Ora, para fazer companhia ao atum e à complexa sopa do restaurante gastronómico do Waldorf Astoria Berlin, o escanção Nuno Jorge, sócio dos chocolates de vinho Cacao di Vine, escolheu um branco tão antigo que ainda era do tempo em que não tinha caído o Muro!
Concretamente, o Porta dos Cavaleiros Reserva Seleccionada da colheita de 1984 – um notável vinho branco do Dão, que já tínhamos tido a felicidade de provar nas Caves São João e que se apresenta cada vez mais evoluído e complexo, continuando porém a manter uma frescura e uma mineralidade ainda muito vivas!
Nuno Jorge
Porta dos Cavaleiros Reserva Seleccionada branco 1984
Ver também:
A extravagância de jantar… na garagem do hotel
Heinz Beck extravagante no Conrad Algarve
LES SOLISTES by Pierre Gagnaire
Waldorf Astoria Berlin, Hardenbergstraße, 28, Berlim, Alemanha
Chef Pierre Gagnaire, Head Chef Roel Lintermans
GUSTO by Heinz Beck
Hotel Conrad Algarve, Estrada da Quinta do Lago, Portugal
Chef Heinz Beck, Chef Residente Daniele Pirillo
Bruno Rocha & Paulo Matias
Há momentos assim, de pura felicidade, em que é a Gastronomia que nos traz a História e a Identidade, seja de um povo, de uma região ou até de uma localidade.
Como sucedeu no passado fim de semana, em que dois conhecidos chefes da capital – Bruno Rocha, do FLORES DO BAIRRO, no Bairro Alto Hotel, ao Chiado, em Lisboa; e Paulo Matias, do PORTO DE SANTA MARIA, no Guincho, em Cascais – se juntaram para ir ao interior centro de Portugal fazer um jantar interpretativo… da vila e da serra da Lousã!
O qual decorreu no Palácio da Viscondessa do Espinhal, edifício onde atualmente funciona o Palácio da Lousã Boutique Hotel e cujo início da construção remonta ao final do século XVIII, tendo ficado para sempre associado às Invasões Francesas. Aqui se instalou o Marechal Massena, sendo também famoso o episódio da apressada fuga do comandante das tropas napoleónicas ao saber da derrota no Rio Ceira quando se preparava para jantar… tendo o triunfante Duque de Wellington entrado na Lousã e comido no Palácio a refeição que Massena deixou para trás!
A lindíssima sala do restaurante A VISCONDESSA do Palácio da Lousã
Dando-se a circunstância de este jantar interpretativo da Lousã, feito por Paulo Matias e Bruno Rocha, ter sido ainda mais interessante porquanto os dois chefes – para além da opção por fazerem pratos únicos, criados especificamente para este jantar depois de contactarem com a realidade local – tiveram ainda abordagens interpretativas da essência da Lousã completamente distintas… as quais, precisamente por isso, se complementam!
Paulo Matias foi buscar o lado mais nobre da Lousã, com toda a sua riqueza e opulência, repleto de influências francesas.
Já Bruno Rocha optou pela vertente mais pobre da Lousã, ligada à economia de subsistência e aos produtos da serra.
Duas formas bem diversas… de ver a mesma realidade!
Jantar interpretativo da Lousã
Assim, depois dos aperitivos, servidos nos salões nobres do Palácio pelo chefe anfitrião Miguel Silva, do restaurante A VISCONDESSA do Palácio da Lousã Boutique Hotel, e que foram acompanhados pelo Porto Branco Bulas, marca de um produtor com duas quintas no Cima Corgo, na margem direita do Douro…
… passou-se à lindíssima sala de jantar, onde, com uma seleção de pães, se começou por provar o excelente azeite biológico Olmais.
Tendo chegado depois o primeiro prato da noite, uma entrada de Paulo Matias.
Em homenagem ao luxo e ao fausto afrancesado da Lousã, o sabor decadente e sedutor do foie gras!
Ravioli de foie gras.
E também um envolvente aveludado de sardinha. Com efeito, no interior do país o peixe fresco era um privilégio; e, mesmo assim, a sardinha acabava por ser um dos mais fáceis de obter.
Estando depois todos os elementos do prato do chefe do PORTO DE SANTA MARIA ligados através do toque suavemente picante do pimento de Espelette.
Tendo ainda o rico prato de Paulo Matias a textura crocante da lula e, também, da avelã caramelizada em manteiga noisette, com raspa de lima no fim.
Por cima, uma telha estaladiça de quinoa desidratada... e alga nori fumada!
Excelente!
Ravioli de foie gras e Espelette / Aveludado de sardinha e lula crocante [Paulo Matias]
Depois, a primeira incursão de Bruno Rocha pela Lousã num prato de peixe… que também tinha carne!
O atum – curado, fumado e seco. Primeiro, marinado em sal, açúcar e limão; seguidamente, após a cura, fumado com madeira de carvalho; ficando a secar durante 8 horas; e sendo depois servido... ralado!
Mas, por baixo, esconde-se a língua de vitela, que Bruno Rocha faz passar por uma salmoura líquida durante uma semana e depois deixa cozer lentamente, servindo-a em lascas muito finas!
Tendo por companhia a batata da Lousã. Que o chefe do FLORES DO BAIRRO apresentou numa suave espuma, emulsionada com o saboroso azeite biológico Olmais.
Bruno Rocha acrescentou ainda delicadas notas a estragão e anis, provenientes da inula e do funcho do mar, este último o apontamento verde do prato.
Tendo finalizado a complexa e original composição com dois raros e autóctones grãos-de-bico pretos... e, ainda, com grão-de-café moído, que serve de acelerador de tempero e intensificador de sabores.
Excelente!
Atum curado, fumado e seco, língua de vitela, espuma da batata [Bruno Rocha]
O prato de carne propriamente dito ficou a cargo de… Paulo Matias!
Com efeito, o objetivo deste jantar interpretativo não era trazer à Lousã o peixe ao sal do Guincho, era antes permitir ao chefe do PORTO DE SANTA MARIA sair da sua zona de conforto e fazer um prato experimental, diferente, inspirado por tudo aquilo que a Lousã é!
E assim foi!
Pelo que Paulo Matias, para preparar o seu prato de carne, pediu à organização um “Baga Velho” – queria cozinhar com um tinto que tivesse evolução e oxidação… mas ainda com taninos vivos!
Tendo a escolha recaído num clássico das Caves São João, o Frei João Reserva… da colheita de 2001!
Para cozinhar o prato de carne…
… Paulo Matias pediu à organização um “Baga Velho”
Frei João Reserva Tinto 2001
No centro do prato, o javali da Serra da Lousã.
Delicioso e com imenso sabor, Paulo Matias trabalhou-o com alho negro e castanhas. E com o Baga de 2001.
Mais a frescura do puré de funcho.
E o sabor intenso do toucinho de porco fumado.
Tendo o chef do PORTO DE SANTA MARIA juntado cinco vegetais, trabalhados de formas diversas: salsify escalfado no vinho tinto Frei João Reserva de 2001; cenoura roxa assada; cenoura laranja salteada; alcachofra assada; e cebolo salteado.
E também três rodelas de uma variedade de beterraba levemente picante.
Bem como um crocante de cogumelos.
E ainda um gel de mirtilos, feito igualmente com o Frei João.
Complexo e arriscado, foi um prato que Paulo Matias construiu a pouco e pouco, com os vários elementos que ia recolhendo nas várias visitas que fez à vila e à serra da Lousã.
Excelente!
Lombinhos de javali e toucinho fumado, legumes da terra, molho de vinho tinto e estaladiço de cogumelos [Paulo Matias]
A sobremesa ficou por conta de Bruno Rocha, um daqueles poucos chefes – não apenas em Portugal como por esse mundo fora – que não precisa de um pasteleiro por perto, conseguindo manter igualmente nos doces o alto nível que alcança nos salgados.
Foi uma homenagem aos aromas e aos sabores da Serra da Lousã!
Sendo também, aliás, uma evocação da serra igualmente do ponto de vista cromático – o castanho e o verde, das árvores; o avermelhado, dos frutos silvestres; e o branco, da neblina que cobre a Lousã.
O parfait é de pinheiro – feito com agulhas recolhidas dois dias antes, no interior da floresta e no topo das árvores, com a ajuda de um madeireiro local.
Tendo por cima um gel também de pinheiro, que Bruno Rocha trabalhou com maçã fermentada.
Ao lado, requeijão fresco e queijo curado, ambos de cabra.
E depois um gelado cremoso de maçã reineta assada com o Vinho do Porto Bulas Vintage de 2012, que lhe dá a cor, e com canela.
O qual está assente num crumble de leite, com notas salgadas que equilibram o doce do gelado.
Tendo ao lado a rama do funcho fresco… cristalizada.
E, por fim, as micro folhas de chagas que, para além de trazerem o verde da Serra da Lousã, acrescentam notas picantes à sobremesa.
Excelente!
Bruno Rocha…
… e a rama do funcho cristalizada
Pinheiro, maçã reineta, queijo de cabra e funcho [Bruno Rocha]
Relativamente à harmonização vínica, os ravioli de foie gras com aveludado de sardinha, de Paulo Matias, foram acompanhados pelo jovem e frutado Bulas Branco de 2015, um lote feito com Malvasia, Viosinho, Códega de Larinho e Rabigato Moreno.
O Bulas da colheita de 2013 produzido exclusivamente com castas tradicionais do Douro – Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinto Cão e Sousão – foi o escolhido para dar luta ao atum e à língua de vaca de Bruno Rocha.
E os lombinhos de javali de Paulo Matias tiveram a companhia do Bulas Grande Reserva Tinto de 2010, feito maioritariamente com uvas provenientes de vinhas velhas – só um quarto do lote é que tinha Touriga Nacional mais recente – tendo depois estagiado um ano em barricas de carvalho francês.
Bulas Branco 2015 / Bulas Tinto 2013 / Bulas Grande Reserva Tinto 2010
Já para acompanhar a sobremesa de Bruno Rocha, o escanção Tiago Silva abriu e decantou o extraordinário Vinho do Porto Vintage Bulas de 2012, produzido a partir das melhores uvas da Quinta da Foz Ceira e da Quinta da Costa de Baixo.
Escanção Tiago Silva e o Bulas Porto Vintage 2012
Foi o final de um grande evento na vila da Lousã, fruto da iniciativa de José Gomes.
Paulo Teixeira de Carvalho, Paulo Matias, Bruno Rocha, Miguel Silva, José Gomes
Em que, através da Gastronomia, se celebrou a História e a Identidade do território da vila e da serra... da Lousã!
José Gomes e a equipa de cozinha
Tendo sido um memorável jantar experimental, criativo e original, de altíssimo nível, que Bruno Rocha e Paulo Matias, sem rede e sem quaisquer preocupações comerciais, arriscaram transformar numa experiência única e irrepetível.
Muitos parabéns aos dois pela coragem, pela paixão e pelo desprendimento.
Foi um privilégio testemunhar esta entrega à Lousã!
Na cozinha do Palácio da Lousã, Paulo Matias & Bruno Rocha
Fotografias: Raul Lufinha e Marta Felino
A VISCONDESSA | Palácio da Lousã Boutique Hotel, Rua Viscondessa do Espinhal, Lousã, Portugal
Chef Miguel Silva
FLORES DO BAIRRO | Bairro Alto Hotel, Praça Luís de Camões, 2, Lisboa, Portugal
Chef Bruno Rocha
PORTO DE SANTA MARIA | Praia da Cresmina, Estrada do Guincho, Cascais, Portugal
Chef Paulo Matias
João Paulo Martins
Prosseguindo a viagem no CHAFARIZ DO VINHO pelos tintos antigos de João Paulo Martins, parámos num clássico da Bairrada ainda muito vivo e em grande forma – o elegante e complexo Frei João Reserva, da colheita de 1966.
Com rótulo de cortiça e numa garrafa bem conservada, trouxe à memória uma gloriosa prova de vinhos velhos nas Caves São João onde foi um dos tintos que mais se destacou – mas em magnum!
Um vinho enorme!
Frei João Reserva tinto 1966
Ver também:
As tertúlias de João Paulo Martins... no CHAFARIZ DO VINHO
Enoteca CHAFARIZ DO VINHO | Rua da Mãe d'Água à Praça da Alegria, Lisboa, Portugal
João Oliveira
Localizado sobre a falésia da Praia da Rocha e integrado no histórico Hotel Bela Vista – um palacete construído no início do século XX – o restaurante VISTA é um Relais & Châteaux absolutamente notável.
A cozinha, segura e criativa, está a um nível muito elevado, sendo liderada por João Oliveira, que anteriormente passou pelo LARGO DO PAÇO, THE YEATMAN e VILA JOYA.
E a sala – fortíssima, ao nível do melhor que se faz em Portugal e no estrangeiro – assenta em três experientes pilares: o chefe de sala Tiago Pereira, o sempre bem-disposto Diego Gonzalez e o escanção Miguel Martins.
Praia da Rocha
Em Agosto, o menu ‘Mar Adentro’ – um dos dois menus de degustação do VISTA, onde também é possível escolher à carta – começou com uma «pequena surpresa» de João Oliveira composta por uma falsa cenoura (era uma saborosa mistura de vegetais), uma mini beterraba recheada com mousse de aves e, por último, uma pérola branca, com recheio de leitão e mousse de laranja, cujo exterior era feito com minúsculas pérolas de arroz que lhe davam uma textura crocante!
1.º snack
A seguir, «outra pequena surpresa do chef!»
Sabores intensos e bem distintos, num delicado duo de cannelloni estaladiços.
De um lado, uma mousse de sardinha, pimento verde e pó de tomate seco.
Do outro, mousse de cavala e ovas de bacalhau.
2.º snack
Depois, João Oliveira faz chegar à mesa uma refrescante sopa fria de maçã com wasabi contendo uma carnuda ostra do Moinho dos Ilhéus, no Parque Natural da Ria Formosa, e também cavala, ambas marinadas em citrinos.
3.º snack
E, por último, um brioche com carpaccio de polvo, pimentão-doce e creme de cataplana.
4.º snack
No VISTA, a seleção de pães é bastante ampla e de imensa qualidade, para além de estarem fresquíssimos – nesta noite, havia um flat bread ótimo, com sementes de sésamo preto, branco e dourado; pão alentejano fatiado; bolinhas de trigo; um excelente e untuoso pão rústico de azeitona, em forma de caracol; e ainda umas bolinhas rústicas com sementes de girassol e de sésamo, branco e dourado.
A seleção de manteigas incluiu duas variedades, uma intensa manteiga de vaca fumada com madeira de cerejeira e uma manteiga de cabra.
Tendo a experiência sido ainda enriquecida com a degustação de uma seleção de três excelentes azeites monovarietais alentejanos da marca D.P.C., de Daniel Proença de Carvalho, completamente distintos entre si e com diferentes intensidades de sabor, produzidos a partir das azeitonas Galega, Cordovil e Cobrançosa.
Pães, azeites, manteigas
Entrando-se então no menu ‘Mar Adentro’ propriamente dito – o qual não inclui qualquer prato de carne – no momento dedicado à gamba violeta da costa, João Oliveira optou por servi-lo antes com um magnífico carabineiro, deixando inalterado o resto da composição.
No fundo, um cannellone de abacate com mousse de sapateira, uma nage cítrica de lima e clementinas, uma seleção de algas e pérolas de maracujá.
Carabineiro… no prato da gamba violeta
Depois, um grande momento, com a raia cozinhada a baixa temperatura, creme de couve-flor, nabo e a textura crocante das alcachofras tostadas.
Sendo finalizado na mesa com um intenso e maravilhoso creme de alcaparras, ao qual João Oliveira juntou previamente óleo de salsa!
Excelente!
Raia
Fora do menu ‘Mar Adentro’, João Oliveira deu-nos ainda a provar o seu delicioso salmonete negro dos Açores, também chamado ‘salmonete de fundo’, com um intenso sabor a algas e a iodo, ao qual o chef do VISTA junta um fabuloso molho de carabineiro!
Salmonete negro dos Açores
E que, por sugestão do escanção Miguel Martins, foi acompanhado de um branco do Dão, o Porta dos Cavaleiros Reserva, das Caves São João, de 1985…!
Ou seja, um vinho... um ano mais velho do que o chef João Oliveira!
E que trouxe à memória um Porta dos Cavaleiros sem data mas provavelmente da década de 60 provado com João Paulo Martins, bem como uma gloriosa prova de brancos antigos nas Caves São João em que foram abertas garrafas de Porta dos Cavaleiros de 1973 e 1984.
Servido decantado, este 85 estava em grande forma, já evoluído e oxidado mas extremamente rico e complexo, com uma acidez vibrante e uma mineralidade que ligaram na perfeição com os sabores marinhos do prato de João Oliveira!
De facto, o vinho escolhido por Miguel Martins enalteceu a criação de João Oliveira... e tornou o momento inesquecível!
Miguel Martins, Diego Gonzalez e o Porta dos Cavaleiros Reserva branco 1985
Merecendo ainda destaque o elevadíssimo nível do serviço de vinhos de Miguel Martins no VISTA – copos, temperaturas, quantidades (sempre reduzidas, para o vinho não aquecer), refill permanente... enfim, tudo como deve ser!
Notável é também o facto de no VISTA se poder provar a copo... praticamente toda a carta de vinhos do restaurante!
Sendo igualmente de louvar que Miguel Martins inclua vinhos velhos no menu das harmonizações vínicas que complementam os menus de degustação!
Porta dos Cavaleiros Reserva branco 1985
Passando para o último momento salgado do menu ‘Mar Adentro’, chegou a pescada de anzol, com lagostim, vegetais grelhados – curgete, cebola doce de verão e milho – e, ainda, dois saborosos cremes, um de milho torrado, outro de Champagne e caviar!
Pescada de anzol
A seguir, como pré-sobremesa, a evocação das laranjas do Algarve numa compota fina e elegante servida no prato num registo de maior doçura, o qual contrasta com a frescura de umas falsas laranjas trazidas numa laranjeira estilo bonsai e que na verdade são um sorbet de lima-laranja, mousse de chocolate branco e gel de laranja.
Pretendendo João Oliveira que, à mesa, misturemos ambos os sabores e temperaturas, mergulhando a falsa laranja na compota.
O que resulta melhor ainda quando Miguel Martins e Diego Gonzalez resolveram juntar-lhes um terceiro elemento cítrico, o licor de laranjas do Algarve Orangea servido muito gelado!
Excelente!
Diego Gonzalez e Miguel Martins
Laranjeira-bonsai… com as falsas laranjas
Compota de laranja
Orangea, licor de laranjas do Algarve
As Laranjas do Algarve
Para sobremesa, outro grande momento de João Oliveira – com efeito, é o chef do VISTA que também assina as sobremesas – num refrescante conjunto em que sobressaíam os sabores da maçã verde, trabalhados de várias formas e apresentados em diversas texturas.
E que era finalizado na mesa com uma apurada sopa de maçã verde com especiarias!
Maçã verde
Por fim, com a aromática e digestiva infusão do chef (feita com 8 ervas e 8 especiarias) ou com o café – ambos incluídos nos menus de degustação – chegam também as mignardises: sabores conventuais nos bricks com beurre noisette, creme de ovo, açúcar e canela; pâtes de fruits de citrinos feitos por João Oliveira no VISTA com kumquat e lima kaffir, entre outros; e deliciosas trufas de chocolate branco com queijo de cabra!
Mignardises
Mas ir a um restaurante não é uma experiência que se esgote simplesmente no ato de comer.
Um dos momentos mais gratificantes de uma grande refeição é depois poder comentá-la e debatê-la com quem a idealizou e executou – como sucedeu no VISTA a seguir a um jantar arrebatador.
João Oliveira
Desconcertante foi a reação do chef quando alguém lhe perguntou pela estrela.
Com um brilho nos olhos, João Oliveira respondeu:
«A estrela é a minha mãe, que está no Céu!»
Sem dúvida, João – uma estrela brilhante e bem à vista!
Sendo certo que, continuando com este nível de cozinha e de serviço, em breve o restaurante liderado pelo filho irá ter uma outra – mas daquelas de que os cozinheiros tanto gostam, daquelas do guia!
Fotografias: Raul Lufinha e Marta Felino
VISTA | Hotel Bela Vista, Av. Tomás Cabreira, Praia da Rocha, Portimão, Portugal | Chef João Oliveira
Barca-Velha tinto 1966
Organizado pela Cofina, com o apoio do BPI…
… o Wine & Food é um evento de celebração dos vinhos e da gastronomia de Portugal…
… que decorre desde o dia de hoje, 29 de abril, até 1 de maio, no Pátio da Galé, em Lisboa.
No Salão Nobre da Pousada de Lisboa, Fernando Melo conduzindo uma prova comentada de grandes vinhos portugueses
Cujo jantar de lançamento, na Pousada de Lisboa...
... com uma prova conduzida e comentada por Fernando Melo, crítico de vinhos e comida...
... foi um momento de celebração...
... dos grandes vinhos portugueses!
Dona Paterna branco 1998, um vinho evoluído já provado no Alvarinho Wine Fest
Frei João branco 1974 (€65), já provado nas Caves São João, continua vibrante e com uma acidez muito viva
Quinta do Mouro tinto 1995 (€45)
Quinta das Bágeiras Garrafeira tinto 1995, a Baga elegante de Mário Sérgio
Quinta do Ribeirinho Pé Franco tinto 1996, um Baga feito por Luís Pato ao modo pré-filoxera e com aromas a folha de eucalipto, dado a vinha estar dentro de um eucaliptal e ser muito batida pelo vento
Barca-Velha tinto 1966 1,5L (€995), um vinho único e arrebatador, não apenas multi-castas mas também multi-vinhas e multi-terroirs, feito na Quinta da Leda e que, 50 anos depois, continua com uma frescura incrivelmente vibrante
Mouchão tinto 1963 (€195), um ícone do Alentejo e de Portugal
Fonseca Porto Vintage 1994 (€208), distinguido com 100 pontos (!) na Wine Spectator
D’Oliveira Boal 1908 (€495), um Madeira ainda do tempo da monarquia
BPI Wine & Food | Pátio da Galé, Terreiro do Paço, Lisboa, Portugal | 29 abril – 1 maio 2016
João Paulo Martins
Ainda das Caves São João…
… agora um exemplar da Região Demarcada dos Vinhos do Dão.
Sem data legível…
… aromaticamente, já estava demasiado evoluído.
Embora na boca tivesse umas interessantes...
... notas meladas!
Porta dos Cavaleiros, Caves São João, Dão, branco, data não identificável
Ver também:
As tertúlias de João Paulo Martins... no CHAFARIZ DO VINHO
Enoteca CHAFARIZ DO VINHO | Rua da Mãe d'Água à Praça da Alegria, Lisboa, Portugal
João Paulo Martins
Os vinhos até poderão ser velhos.
Mas por vezes o que está mesmo velho…
… é o rótulo!
Caves São João, Bairrada, branco, ano ilegível
Como sucedeu…
… com o sexto vinho da tertúlia!
Parcialmente rasgado…
… o rótulo apenas tinha legível a palavra “Bairrada”!
Quem vê rótulos, não vê vinhos
Já o líquido...
... estava evoluído e vibrante…
... com uma acidez bem integrada!
Ver também:
As tertúlias de João Paulo Martins... no CHAFARIZ DO VINHO
Enoteca CHAFARIZ DO VINHO | Rua da Mãe d'Água à Praça da Alegria, Lisboa, Portugal
João Paulo Martins
Na tertúlia de João Paulo Martins, no CHAFARIZ DO VINHO, dedicada aos vinhos velhos…
… o quinto momento coube às Caves São João.
Com o Branco Seco…
… de 1987.
Provavelmente feito com Bical e Maria Gomes, o nome dado na Bairrada à casta Fernão Pires…
… e ainda em grande forma!
Branco Seco, Caves São João, 1987
Ver também:
As tertúlias de João Paulo Martins... no CHAFARIZ DO VINHO
Enoteca CHAFARIZ DO VINHO | Rua da Mãe d'Água à Praça da Alegria, Lisboa, Portugal
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.