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Ricardo Costa e Bruno Antunes
Os três dias da edição inaugural do Cascais Gastronómica encerraram com um jantar de grande nível assinado por Ricardo Costa, chef do THE YEATMAN, restaurante gastronómico com duas estrelas Michelin integrado no emblemático hotel vínico que lhe dá o nome.
Tendo a seleção de vinhos ficado, mais uma vez, a cargo do escanção residente do festival, Bruno Antunes, da Wine Man.
Cascais Gastronómica 2017 | Tal como já tinha sucedido com Tiago Bonito (LARGO DO PAÇO), Alexandre Silva (LOCO), Miguel Laffan (L’AND), Henrique Sá Pessoa (ALMA) e Pedro Lemos (PEDRO LEMOS), também o chef Ricardo Costa subiu ao palco do Cascais Gastronómica 2017, no Centro de Congressos do Estoril, para apresentar à sala cada uma das suas criações. Tendo depois o sommelier Bruno Antunes explicado a sua correspondente sugestão de harmonização.
Centro de Congressos do Estoril | A sala criada para receber as seis refeições da primeira edição do Cascais Gastronómica.
Marisqueira, Tremoço, Abacate, Coentros + Estrella Damm Lager | Para começar o jantar com uma cerveja, Ricardo Costa trouxe uma adaptação de uma refrescante entrada que entretanto acabou por retirar da carta do THE YEATMAN, pois era incompreendida pelos estrangeiros, que a achavam demasiado forte e intensa… mas que estava maravilhosa! E ligava muito bem com a Estrella Damm. Com efeito, para além do sabor a marisco e do amargor da cerveja, na criação de Ricardo Costa brilhava ainda um poderoso creme de tremoço e uma espuma de bivalves, em especial lingueirão! Aos quais o chef do THE YEATMAN acrescentava também o crocante do amendoim! Excelente!
A surpresa de existir... um complemento à Entrada | Contudo, o melhor ainda estava para vir! É que, como complemento à “Marisqueira”, Ricardo Costa preparou a surpresa de servir um arrebatador segundo momento, que atualmente serve como aperitivo no THE YEATMAN: lingueirão; ovo de codorniz cozido a baixa temperatura; presunto; puré de feijoada e também um apuradíssimo molho de feijoada; crocante de maçã; e, fazendo a ponte com a primeira parte da entrada, a mesma espuma de bivalves! Excelente!
Leitão Tropical, Papaia, Manga, Galanga | Ricardo Costa é de Aveiro e trabalha sempre muito bem o leitão. Desta vez, resolveu enquadrá-lo… numa elegante sopa tailandesa! Ou seja, como sempre acontece com o chef do THE YEATMAN, temos o leitão irrepreensível, naquele registo bairradino, muito saboroso, com a pele bem tostada e crocante! Mas agora temos igualmente lavagante! Mais manga! E mais papaia! E também espuma de lima! E ainda uma sopa picante feita com galanga, o chamado “gengibre tailandês”. Ou seja, temos o registo tradicional da Bairrada de comer o leitão com molho picante – embora o “molho” aqui seja antes uma sopa (!) e o picante não venha tanto da pimenta mas antes do tal gengibre! Brutal! Absolutamente brutal! Um prato para repetir muitas vezes!
Quinta do Monte Travesso Reserva Branco 2016 | Para a montanha-russa de sabores que é este Leitão Tropical de Ricardo Costa, Bruno Antunes escolheu um branco do Douro jovem, muito vivo e com uma acidez vibrante, mas também bastante saboroso, produzido por Bernardo Nápoles de Carvalho a partir da vinha velha da Quinta do Monte Travesso, em que predominam as castas Gouveio, Viosinho e Rabigato, tendo fermentado em barricas com battônage.
Polvo, Carabineiro, Molho à Bordalesa, Ouriço-do-mar | Outro grande momento de Ricardo Costa! Junta no mesmo prato o carabineiro, o polvo e o ouriço-do-mar! E depois envolve-os num poderoso molho de vinho… tinto!
Bruno Antunes, o Branco e o Tinto | Perante isto, branco ou tinto? Inicialmente, seria branco – como, pela descrição à distância que Ricardo Costa tinha feito do prato, o molho teria apenas um pouco de vinho tinto, Bruno Antunes pensou que o polvo e, em especial, o carabineiro e o ouriço-do-mar impor-se-iam, de modo a pedir branco. Porém, já no Cascais Gastronómica, quando foi fazer o teste final das harmonizações, Bruno Antunes deu-se conta da enorme complexidade do prato de Ricardo Costa e da presença marcante do vinho tinto no molho e consequentemente no prato! Pelo que tomou então a inteligente decisão de antecipar o tinto da vitela, de modo a servir dois vinhos, um branco e um tinto! O que teve um efeito notável: pôs toda a sala a discutir a comida, os vinhos e a ligação entre a comida e os vinhos! Pôs toda a gente a pensar naquilo que estava a comer e a beber. E a opinar sobre qual seria a melhor harmonização. Na nossa mesa, ganhou o tinto. Mas isso não foi o mais importante. O mais bonito foi a discussão que se gerou e a troca de ideias que aconteceu. Na verdade, quem ganhou fomos todos nós!
Sanduíche de Vitela | Passando para a carne, chega uma tão complexa quanto deliciosa “sandes”… para comer à mão!
Costa SW Reserva Tinto 2012 | Tendo este requintado momento de finger food sido acompanhado pelo rico e complexo Costa SW Reserva tinto de 2012 do sul da Península de Setúbal, junto à costa, feito a partir de Alicante Bouschet, Touriga Nacional e Touriga Franca, com um estágio de 12 meses em barricas novas de carvalho francês e já vários anos em garrafa.
Vitela de Leite, Lombo, Tutano, Tendão | Porém, Ricardo Costa tinha mais uma surpresa preparada! É que afinal a “sandes” era apenas um aperitivo! A seguir chegou um segundo momento! E que, na verdade, foi o momento principal! Com efeito, como é habitual nos pratos de carne do chef do THE YEATMAN, havia um enorme contraste entre os sabores e as texturas! Ou seja, os sabores, em especial os da vitela, são poderosos, intensos, profundos, bastante puxados! Já as texturas, a da tenríssima vitela, bem como as dos cogumelos girolles e do puré de aipo, são de uma enorme delicadeza e suavidade! Excelente!
Costa SW Reserva Tinto 2012 | Para o segundo momento da vitela de Ricardo Costa, Bruno Antunes manteve – e bem – o tinto inicial: um prato poderoso pede um vinho complexo, com volume de boca e boa estrutura!
Cenoura | Passando para o lado mais doce do jantar, Ricardo Costa começou por apresentar uma extraordinária sobremesa feita apenas com cenoura – somente cenoura, trabalhada em diversas texturas. Na base, cenoura macerada, como se fosse xarope. Depois, cenoura picada. Espuma de cenoura. Água de cenoura crocante. E no topo, do produtor de Amarante que fornece o THE YEATMAN, uma micro cenoura biológica.
Burmester Tawny 20 Anos | Para uma sobremesa com notas mais envolventes e xaroposas, Bruno Antunes escolheu o sedutor Tawny 20 Anos da Casa Burmester, num excelente compromisso entre a frescura e a exuberância dos aromas.
Mirtilos | Por último, conforme anunciou Ricardo Costa, “os nossos mirtilos!”. Mirtilos inteiros confitados. Mirtilos em mousse. Mirtilos em creme. Mirtilos em merengue. E depois, em contraste, um cremoso gelado de queijo mascarpone e um creme de baunilha. Sendo tudo finalizado com zest de lima-kaffir.
Vieira de Sousa LBV 2012 | Chegados às sobremesas, verificou-se que, tal como os treinadores de futebol gostam que os seus jogadores pensem jogo-a-jogo, também Bruno Antunes nos pôs a pensar prato-a-prato – ou seja, pôs-nos a pensar na harmonização da respetiva sobremesa, sem que nos preocupássemos com a harmonização anterior ou com a seguinte. De facto, depois de um Tawny 20 anos, o caminho mais lógico poderia ser um Porto ainda mais antigo e concentrado. Porém, a segunda sobremesa de Ricardo Costa não ia por aí – a acidez dos mirtilos era demasiado viva. Pelo que o sommelier do Cascais Gastronómica, de modo a continuar nos Vinhos do Porto, em boa hora passou para um LBV, apostando num registo mais jovem e com mais fruta madura, fruta encarnada, e em que aguardente (que dá luta à acidez do mirtilo e à gordura do mascarpone) também está mais presente. O que ligou na perfeição com a composição de mirtilos de Ricardo Costa!
A equipa do THE YEATMAN | No final do jantar, houve ainda tempo para Ricardo Costa apresentar a equipa que trouxe do Porto.
Ricardo Costa | E a satisfação do chef por ter fechado o Cascais Gastronómica com um jantar de grande nível!
Henrique Sá Pessoa e o escanção Bruno Antunes
Ao longo dos três dias do Cascais Gastronómica, foram seis os chefes de restaurantes estrelados que apresentaram um menu de degustação no espaço fine dining do festival: Alexandre Silva (LOCO, Lisboa, 1* Michelin), Henrique Sá Pessoa (ALMA, Lisboa, 1* Michelin), Miguel Laffan (L’AND, Montemor-o-Novo, 1* Michelin), Pedro Lemos (PEDRO LEMOS, Porto, 1* Michelin), Ricardo Costa (THE YEATMAN, Vila Nova de Gaia, 2** Michelin) e Tiago Bonito (LARGO DO PAÇO, Amarante, 1* Michelin).
Já as harmonizações ficaram a cargo do escanção residente do evento, Bruno Antunes, da Wine Man.
O restaurante do Cascais Gastronómica, no Centro de Congressos do Estoril
Tendo Henrique Sá Pessoa trazido ao evento os pratos do ALMA – alguns clássicos e também novidades.
Gamba da Costa ao Alhinho + Estrella Damm Lager | Para começar, a emblemática homenagem de Henrique Sá Pessoa às clássicas gambas fritas com alho – mas numa leitura mais moderna, pois sobre a gamba surge uma gulosa e picante emulsão de alho e malagueta que pede claramente cerveja, tendo ligado muito bem com o amargor e com as notas levemente doces da lager Estrella Damm.
Lula, Grão, Tomate Confit, Caldo de Lula | Denso e profundo. Grande jogo de texturas, com a leguminosa a surgir inteira no fundo do prato.
Robalo ao Vapor, Arroz de Ameijoas à Bulhão Pato, Codium | Outro grande momento de Henrique Sá Pessoa. E que tem no topo espuma de limão – para nos fazer lembrar o hábito de espremermos o citrino por cima das ameijoas.
Camaleão, Alvarinho, 2016 | Para acompanhar a lula e o robalo, Bruno Antunes escolheu o cítrico e elegante Alvarinho de João Cabral de Almeida cujo rótulo muda de cor conforme a temperatura…!
Leitão Confitado 24h, Puré de Batata, Grelos, Jus de Pimentas | Os sabores da Bairrada. Inclusivamente no novo molho – mais bairradino, comparativamente com o que até aqui tem estado a ser servido no ALMA.
Vadio Bairrada Tinto 2014 | Para o leitão, a Baga aveludada e muito pronta de Luís Patrão – o segredo é amaciá-la com um pouco de uvas brancas…!
Bruno Antunes, Henrique Sá Pessoa, Telmo Moutinho | No Cascais Gastronómica, o chefe convidado vai sempre ao palco apresentar cada um dos pratos. Porém, para os momentos mais doces do jantar, Henrique Sá Pessoa trouxe também à sala o chef pasteleiro do ALMA, Telmo Moutinho, que apresentou as três criações que preparou para o jantar do festival.
Pré-sobremesa | Suspiro de canela recheado com sorbet de abóbora e acompanhado por um gel de cardamomo.
Flan Aero, Gelado de Pinhão, Biscoito Salgado de Pinhão | Antecipando um prato futuro, Henrique Sá Pessoa e Telmo Moutinho apresentaram uma nova e complexa sobremesa do ALMA, que irá integrar o menu da passagem de ano. E em que sobressai o pormenor de ter um papel comestível de caramelo e outro de leite!
Petits Fours | Fresquíssimos, com imenso sabor a amêndoa!
Hobby Abafado, Tejo | Para os momentos finais do jantar, Bruno Antunes escolheu o abafado de Diogo Campilho e Pedro Pinhão, feito com Fernão Pires e em que sobressaem as notas de pera.
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