Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
SEMEA, fevereiro 2020 – irmãos Carlos e Luís Serrano Mira com o enólogo Ricardo Constantino e o novo rosé de Sangiovese da Herdade das Servas
Já chegou ao mercado mais uma das estreias que a Herdade das Servas preparou para este ano!
Um raro e gastronómico rosé de… Sangiovese!
Extremamente acídulo!
Pensado para a mesa!
E que em fevereiro passado, no Porto, a família Serrano Mira tinha pré-apresentado, ainda com rótulo provisório, durante o almoço – no descontraído SEMEA, do chef Vasco Coelho Santos (Prato Michelin 2020, tal como o EUSKALDUNA) – que antecedeu a impactante estreia do Carignan e a prévia prova vertical comentada dos topos de gama tintos do produtor alentejano, sessão, aliás, que foi um dos pontos altos da edição deste ano da Essência do Vinho.
Efetivamente, se já não é fácil encontrar em Portugal tintos varietais daquela famosa casta italiana também conhecida como Brunello – apenas conhecemos o do Monte da Ravasqueira e, claro, o emblemático Anima, da Herdade do Portocarro – então rosés portugueses de Sangiovese só temos mesmo conhecimento do Tears of Anima, também de José Mota Capitão.
Porém, já da colheita de 2019, este rosé de Sangiovese da Herdade das Servas é algo completamente diferente!
Estamos mesmo perante um rosé de perfil assumidamente acídulo!
Um rosé com um carácter ácido muito marcado!
Basta ver que tem um pH de 3,07 e uma acidez total de 8,7 g/l de ácido tartárico, com 0,3 g/l de açúcar residual.
Uma acidez, porém, que, embora bastante elevada, não é agressiva!
Tem elegância!
Com efeito, apesar de estas uvas de Sangiovese terem sido as primeiras uvas tintas a chegar à adega, convém ter em conta que, num clima quente e seco como o do Alentejo, que favorece a maturação das uvas, esta decisão de preservar a acidez natural da fruta significa também a procura de um equilíbrio, desde logo, na própria uva.
Trabalho esse de procura do equilíbrio que depois prossegue na adega, porquanto – para contrabalançar uma acidez tão acentuada – 40% do mosto fermentou e estagiou ‘sur lies’ com ‘bâtonnage’ não em inox mas em barricas usadas de 3.º e 4.º ano, de modo a dar ao vinho um pouco de gordura e untuosidade.
O resultado é um rosé salmonado. Complexo. Com leves notas florais, discretos aromas a frutos encarnados, nomeadamente groselha e romã, e ligeira tosta de barrica. Bastante seco. Persistente.
Um rosé, pois, muito sério.
E muito gastronómico.
Salivante mesmo.
Um rosé que pede comida!
E que no SEMEA, para testar a sua pronunciada acidez em diferentes registos, o chef Vasco Coelho Santos – que estava de fim de semana mas teve a simpatia de passar pelo restaurante para cumprimentar a mesa – harmonizou com liça dos Açores curada, com gengibre e ainda com jus de porco.
Tendo a acidez do vinho funcionado maravilhosamente com as três diferentes dimensões do prato – o peixe, o gengibre e o porco.
Entretanto, o almoço prosseguiu, tendo sido apresentadas mais duas novidades da Herdade das Servas, as novas colheitas dos Reserva branco e tinto.
Porém, chegados à sobremesa, foi muito interessante ter surgido a ideia – não prevista no programa – de recuperar e testar o bem seco e pouco frutado rosé de Sangiovese... com a rabanada e com o gelado de canela!
E, de facto, para além do interessante contraste de temperaturas, não só a profunda acidez do rosé cortou deliciosamente o crocante e o untuoso da emblemática rabanada de Vasco Coelho Santos, mas também a canela do gelado fez sobressair... as notas especiadas do vinho!
Foram, pois, duas grandes harmonizações na apresentação deste rosé extraordinário!
Único mesmo!
Apenas 3500 garrafas de 750 ml.
Com um PVP de 10 €.
Três novidades Herdade das Servas, então ainda com rótulos provisórios: Sangiovese Rosé 2019, Reserva Branco 2018 e Reserva Tinto 2016
Pão de massa mãe. E as pastas do dia: uma, de beterraba fumada; e outra, de queijo de cabra, com mel e lima
Liça curada dos Açores, gengibre e jus de porco + Herdade das Servas Sangiovese Rosé 2019
Enólogo Ricardo Constantino
Raia grelhada, noisette, jus de peixe + Herdade das Servas Reserva Branco 2018
Codorniz + Herdade das Servas Reserva Branco 2018 / Herdade das Servas Reserva Tinto 2016
Puré de alho, pancetta e ovo
Rabanada & Gelado de canela + Herdade das Servas Sangiovese Rosé 2019 / Herdade das Servas Reserva Branco 2018 / Herdade das Servas Reserva Tinto 2016
Vasco Coelho Santos
Esplanada, uma mais-valia adicional do SEMEA nestes tempos pós-covid
Ver também:
Na Sala do Tribunal, do Palácio da Bolsa, no Porto...
... o enólogo Ricardo Constantino e o produtor Luís Serrano Mira...
... na prova comentada “Herdade das Servas: a estreia do Carignan e a consolidação das vinhas velhas”
Gerou uma enorme expectativa a prova comentada da Herdade das Servas na 17.ª edição da Essência do Vinho, que decorreu no Palácio da Bolsa, no Porto.
Estava agendada para a imponente Sala do Tribunal.
E o produtor alentejano – mais virado para o futuro do que para o passado – propunha-se fazer «a estreia nacional de um monocasta de Carignan»!
Carignan?
Sim.
«Uma casta autóctone da região Cariñena, em Espanha, e bastante presente no Alentejo de outrora – necessita de uma região com elevadas horas de insolação e solos pouco férteis para limitar a sua produção e aumentar a qualidade e longevidade dos vinhos que lhe estão na base –, mas nunca usada em estreme.
[E.T. – Serão muito poucas mas existem referências anteriores de monoscastas portugueses de Carignan. Tomás Caldeira Cabral recorda-se “de um Carignan da Casa Cadaval nos anos 70 ou 80”. E entretanto também encontrei a referência a um Carignan da Quinta do Côro de 2001. Curiosamente ambos produtores da então região do Ribatejo.]
Uma casta vigorosa, com maturação tardia, película grossa e mosto de elevada acidez natural, que dá origem a vinhos frescos e elegantes.
Com origem numa vinha com 45 anos de idade, a Herdade das Servas procura com este vinho mostrar o carácter e a frescura das uvas de uma vinha conduzida em vaso e de baixa produtividade.
Uma edição limitada a pouco mais de 3500 garrafas.»
Herdade das Servas Parcela C Carignan Single Vineyard tinto 2016
Porém – para se perceber bem o verdadeiro nível do Carignan que ia ser apresentado – antes do novo vinho e de modo a enquadrá-lo devidamente, a Herdade das Servas resolveu fazer nada mais nada menos do que uma prova vertical do seu topo de gama!
Antes do novo vinho, os topos de gama???
Pois, uma manobra arriscadíssima!
Mas também um excelente sinal!
Se o Carignan não fosse mesmo bom, não aguentaria a comparação com os melhores vinhos de sempre da Herdade das Servas! Ou seja, a comparação com os emblemáticos Vinhas Velhas de 2005, 2009, 2012 e 2015 – isto é, todas as edições exceto o 2014. E depois, mais ainda, o embate com o estratosférico Parcela V de 2011.
Cinco vinhos que foram efetivamente memoráveis – qualquer um deles, daqueles com os quais poderíamos ficar a conversar todo um jantar. Confirmando a anunciada “consolidação das vinhas velhas”.
Até que chegou então o Carignan.
Com duas nunces, porém.
Uma, foi a de que não era apenas um, mas três Carignans – com efeito, apesar de estar a ser efetuada a apresentação e pré-lançamento da colheita de 2016, a Herdade das Servas, valorizando ainda mais esta sessão na Essência do Vinho, trouxe também para prova o 2017, atualmente em estágio, e, ainda, uma amostra de cuba já do 2019.
A outra nuance consistiu no facto de o enólogo Ricardo Constantino ter invertido a ordem cronológica seguida inicialmente, de modo a começar pelo Carignan mais recente.
E assim foi.
Primeiro, uma amostra de cuba da colheita de 2019. Um Carignan muito primário, ao ser provado tão perto da vindima. E com três notas marcantes: fruta, acidez e tanino.
A seguir, o 2017, ainda em estágio. Mais complexo e mais polido. Sobressaindo a acidez, a frescura.
E depois, por fim, o culminar de toda esta prova tão especial – o 2016.
Que estagiou 12 meses em barricas novas de carvalho francês.
E que depois repousou em garrafa na cave durante 20 meses.
«Vinho límpido, vermelho violeta, aromas de ameixa, amora, figo e tosta de barrica. Fresco, elegante e estruturado, com notas de especiarias provenientes do estágio em carvalho francês, taninos ricos e final longo revelando a elevada acidez natural.»
De facto, um vinho extremamente elegante e complexo, com duas características marcantes, que nem sempre temos a felicidade de encontrar em simultâneo:
A Fruta – fruta madura;
E a frescura – tinha uma ótima acidez.
Resultando isto do facto de ser feito com uvas provenientes de uma vinha já antiga, com mais de 40 anos – e que tinha sido plantada em 1974 pelo Pai de Carlos e Luís Serrano Mira, então paradoxalmente numa lógica de volume para as ex-colónias. Resulta ainda da forma como a vinha foi trabalhada ao longo do ano, claro, nomeadamente diminuindo a produtividade para aumentar a qualidade – aliás, esta vinha, a vinha da Cardeira Velha, só entrou para o universo da Herdade das Servas em 2015. E resulta também obviamente, este clássico binómio fruta madura / frescura, da própria casta.
Com efeito, a uva Carignan é uma autêntica reserva ácida, tem um extraordinário equilíbrio ácido.
O que se torna deveras importante numa região quente como o Alentejo – na verdade, ao contrário do que sucede com outras castas, com a Carignan não é necessário interromper o ciclo de maturação da uva e colhê-la mais cedo para garantir que não se vai perder a acidez.
Ou seja, é possível ter fruta madura sem sacrificar a acidez.
Conseguimos ter fruta madura e ter também acidez.
Mesmo madura, a Carignan tem naturalmente uma elevada acidez!
De modo que – percebe-se após a prova – este Carignan da Herdade das Servas é um vinho que segue a linhagem dos Vinhas Velhas.
E que irá certamente continuar a evoluir de modo muito favorável em garrafa – como, aliás, a comparação entre o 2019, o 2017 e o 2016 já deixa antever.
Fazendo, pois, todo o sentido ser apresentado como um prolongamento dos seus gastronómicos topos de gama!
Imperdível para qualquer enófilo, será lançado no final de março com um PVP de 40 €.
Os 8 vinhos em prova: Herdade das Servas Vinhas Velhas tinto 2005, 2009, 2012, 2015; Herdade das Servas Parcela V tinto 2011; Herdade das Servas Parcela C Carignan Single Vineyard tinto 2019 (amostra de cuba), 2017 (em estágio), 2016 (pré-lançamento)
Porém, a estreia do Carignan não é apenas um marco histórico para a Herdade das Servas.
Também o é para o Alentejo!
Desde logo, claro, por ser o primeiro 100% Carignan alentejano de que há memória.
Mas também por uma outra razão que – apesar de não ter sido abordada na prova – importa referir.
E que é a seguinte:
Este Carignan é importante para nos continuar a mostrar que há outros caminhos no Alentejo!
Ainda para mais, nestes tempos de alterações climáticas em que a pedra-de-toque de todos os vinhos é a acidez.
Ora, atualmente a moda na região – e até cada vez mais fora dela – é fazer os topos de gama tintos com Alicante Bouschet.
O que, como vimos nesta prova, também sucede na Herdade das Servas – é a casta dominante nos Vinhas Velhas.
E o que, aliás, para não ir mais longe, acabou novamente de ser reconhecido já nesta mesma edição da Essência do Vinho. Com efeito, na prova “Top 10 Vinhos Portugueses”, promovida pela Revista de Vinhos, especialistas e líderes de opinião convidados, oriundos de uma dezena de países (Bélgica, Brasil, Dinamarca, Espanha, EUA, Inglaterra, Itália, Rússia, Suécia e Suíça) juntaram-se aos portugueses e provaram, em prova cega, na manhã de 20 de fevereiro, no Palácio da Bolsa, os pré-selecionados 46 vinhos que tinham obtido as melhores pontuações na publicação ao longo de 2019, nas categorias de brancos, rosés, tintos e fortificados (Portos, Madeiras e Moscatéis). Ora, não por acaso, dos quatro tintos do Top 10, os dois primeiros são alentejanos! O vencedor, o melhor tinto, foi o Grande Rocim Reserva 2015, produzido por Catarina Vieira e Pedro Ribeiro, na Herdade do Rocim – sem surpresa, um 100% Alicante Bouschet! E o segundo melhor tinto português foi o Altas Quintas Obsessão 2007, então de João Lourenço, um lote assinado por Paulo Laureano com o tempero da Trincadeira, mas em que mais uma vez a casta dominante (75%) é precisamente… a Alicante Bouschet!
Todavia, o que este Carignan nos diz – não sendo o único a fazê-lo, claro, mas indo indiscutivelmente contra a tendência atual – é que o Alentejo de topo não é só Alicante Bouschet!
O que este surpreendente vinho da Herdade das Servas nos mostra é que continuam a existir outros caminhos no Alentejo para os tintos de topo!
E que – essa é a grande novidade desta prova – mais um desses caminhos alternativos chama-se... Carignan!
Ver também:
João Simões e a fumegante lebre no forno
Na visita à Herdade das Servas, em Estremoz, brilhou uma lebre de caça marinada em vinho tinto que João Simões trouxe d’A CADEIA QUINHENTISTA ainda a fumegar, depois de três horas no forno.
"Lebre com Azeitonas Pretas e Pimentos Vermelhos"
Para além das azeitonas pretas, dos pimentos vermelhos e da cebola, a lebre foi acompanhada pelo que pareciam ser umas "batatas" assadas no forno mas que eram na verdade de farinha de trigo – depois de ligeiramente cozidas, foram ainda passadas por azeite muito quente, de modo a ficarem crocantes.
Carlos e Luís Serrano Mira
Tendo a harmonização sido feita com dois vinhos tintos da Herdade das Servas. Primeiro o Colheita Seleccionada de 2010, produzido com Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Syrah e Trincadeira. E depois o Reserva Syrah / Touriga Nacional de 2009.
Herdade das Servas Colheita Seleccionada tinto 2010
Herdade das Servas Reserva Syrah Touriga Nacional tinto 2009
Herdade das Servas, Estremoz, Alentejo, Portugal
Pôr-do-sol na Herdade das Servas
A Herdade das Servas fica em Estremoz, no Alto Alentejo.
Pertencendo aos irmãos Serrano Mira, Carlos e Luís.
Carlos e Luís Serrano Mira
Sendo a família Serrano Mira uma das mais antigas na produção de vinho do Alentejo – pelo menos desde o século XVII que ele é produzido nestas propriedades.
Talha de barro de 1667
Com efeito, ainda hoje a Herdade das Servas conserva talhas de barro datadas de 1667...!
Luís Serrano Mira
Luís Serrano Mira conduziu a visita à adega da empresa, equipada com a mais moderna tecnologia de recepção, vinificação e envelhecimento de vinhos.
A Herdade das Servas produz 1 milhão e 200 mil garrafas por ano, comercializando vinhos brancos, tintos e rosés sob três marcas:
• Vinha das Servas – entrada de gama, para o dia-a-dia;
• Monte das Servas – para o dia-a-dia de um consumidor mais exigente;
• Herdade das Servas – topo de gama, para momentos de consumo especiais.
Tendo um património vinícola de 220 hectares, dividido em quatro vinhas: Azinhal, Judia (a mais antiga), Monte dos Clérigos e Servas.
A idade das vinhas está compreendida entre os 20 e os 60 anos, com excepção da vinha das Servas, plantada em Janeiro de 2007.
Sendo acompanhadas por uma equipa de viticultura liderada por Carlos Serrano Mira.
Já a enologia está a cargo de Luís Serrano Mira e do enólogo Tiago Garcia.
Luís Serrano Mira, Tiago Garcia e Carlos Serrano Mira
Herdade das Servas, vinhos de qualidade de um "Alentejo de corpo e alma".
Herdade das Servas, Estremoz, Alentejo, Portugal
Luís Serrano Mira
Um exercício extremamente interessante é experimentar à mesa vinhos monovarietais que conseguem captar a essência da casta.
Como sucede com os novos Alfrocheiro e Petit Verdot da Herdade das Servas.
De facto, conforme explicou no Chafariz do Vinho o co-proprietário e director de enologia Luís Serrano Mira, “a Herdade das Servas só lança vinhos estremes quando são representativos da casta”.
Herdade das Servas Reserva Alfrocheiro tinto 2010
O Alfrocheiro, casta típica do Dão, está muito elegante, apresentando um perfil mais madurão. Inclusivamente aparenta ter um teor de açúcar superior ao real – mas não é açúcar residual, é mesmo o perfil da casta!
Herdade das Servas Reserva Petit Verdot tinto 2010
O Petit Verdot, casta clássica de Bordéus, tem um perfil diferente, mais fresco e mentolado – faz lembrar After Eight.
Ambos da colheita de 2010 e com o PVP 16,67 €, são duas experiências diferentes, únicas.
Fotografias: Marta Felino / Flash Food
Herdade das Servas, Estremoz, Alentejo, Portugal
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.