A Michelin acaba de divulgar oficialmente a capa do Guia Michelin Espanha & Portugal para 2020.
Ou, mais corretamente, a capa de “La Guía Michelin España & Portugal”.
Uma capa outra vez… em castelhano!
Naturalmente que – sendo embora uma repetida falta de consideração para com os portugueses – a capa não é o mais importante. O que conta é o conteúdo, que será anunciado dia 20, em Sevilha.
Porém, pelo que já se vê da capa, parece que a marca francesa irá continuar a servir aos portugueses um guia espanhol, feito a partir de Madrid.
Pergunta provocadora: Quantos guias são vendidos de facto em Espanha e em Portugal? Será que a desproporção não será ainda maior? Teríamos entre nós consumidores para adquirir guias suficientes que justificassem uma edição apenas portuguesa?
A venda de guias em papel será certamente residual – a informação mais significativa está toda on-line.
E não estou a dizer que a edição tenha que ser exclusivamente portuguesa. Para captar turistas espanhóis, por exemplo, até pode haver vantagem em que seja conjunta.
De qualquer forma, a Michelin é que sabe os guias que quer fazer!
Agora, se decide fazer um guia “Espanha & Portugal” para o mercado português, o mínimo é que não o escreva só em espanhol – começando desde logo pela capa.
Porém, o grave desta história da capa é que a Michelin, ao apresentar-nos uma capa como esta, em que desconsidera os portugueses, também já nos está a dizer o modo como fez o próprio conteúdo do guia!
Claro que mesmo em Espanha não deve haver muitas vendas, mas se formos ver as consultas online, com certeza que em Espanha tem mais procura. Aliás, tirando o ano passado que deu em streaming no Facebook deles, tenho "assistido" ao anúncio via Twitter, e para cada português a falar do assunto, há 20 ou 30 espanhóis entusiasmados com o tema.
Mas claro que se o Guia versa mais que um país, devia ser lançado em tantas línguas quantas as faladas nos países que cobre.
Sim Duarte, pequeno ou grande, a Michelin é que decidiu vir para o mercado português – o mínimo é o guia ser em português, começando, desde logo, pela capa.
Da mesma forma que um restaurante espanhol, quando abre em Portugal, não tem a carta só em castelhano... Pode servir comida espanhola, mas o menu tem que estar em português.
O verdadeiro problema disto, porém, é o do conteúdo do guia – se continuam a ter o desplante de fazer assim a capa, desconsiderando os portugueses, também não terão feito o conteúdo (ou seja, a seleção dos restaurantes) de modo diferente!