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Pedro Mendes
Uma das boas notícias desta temporada foi o regresso de Pedro Mendes a Vila Viçosa.
Com efeito, é no Marmòris que a sua cozinha mais brilha.
Por um lado, o hotel dá-lhe liberdade e condições para desenvolver um registo fine dining, de modo a que o restaurante também seja uma bandeira do hotel – aliás, para além da carta, há dois menus de degustação.
E, por outro lado, Pedro Mendes tem igualmente aqui a possibilidade de celebrar os sabores do Alentejo e de, ao mesmo tempo, prosseguir o seu interessantíssimo caminho de recuperação de produtos por muitos considerados menores mas que, depois, transformam uma refeição no Marmòris numa autêntica descoberta – e não é só a bolota!
De facto, sente-se à mesa a felicidade do chef e quão inspirador é o Alentejo para Pedro Mendes!
Narcissus | O nome do restaurante do Alentejo Marmòris Hotel & Spa é uma homenagem à flor Narcissus Fernandesii, espécie endémica das pedreiras de mármore de Vila Viçosa que se encontra em risco de extinção.
Janela | Da sala é possível observar o ritmo da cozinha.
Mesa | Simplicidade e elegância.
Manteiga e piso | Uma boa manteiga de vaca, apenas com flor de sal. E a evocação dos sabores de sempre do Alentejo num magnífico e estimulante piso, que Pedro Mendes faz com aquela que é a base da açorda alentejana: azeite, coentros e alho!
Pães | E também uma seleção de bons pães, em que se destaca o “Pão Alentejano” no seu registo tradicional. O qual, aliás, liga na perfeição com o piso, numa conjugação que traz de imediato à memória as inesquecíveis açordas do Alentejo!
Amuse-bouche | A primeira aparição da bolota numa brincadeira de Pedro Mendes, que resolveu abrir o jantar com a loiça que habitualmente o costuma encerrar. Na chávena de café, um reconfortante creme quente de mogango (abóbora), levemente doce, com um toque de azeite de trufa. Acompanhado por um saboroso e elegante croquete de farinheira preta – por ser feita com sangue – e bolota. Com uma capa exterior muito fina e frita no ponto, a envolver o interior rico e denso, é depois finalizado no topo com uma intensa mostarda de pimento. Novamente os sabores fortes do Alentejo! O doce, o salgado, o picante, o fumado, as diversas texturas… tudo tão bom! Dava vontade de pedir mais uns dois ou três croquetes!
Canja de pombo bravo | Continuando a viagem pelos sabores do Alentejo, Pedro Mendes apresenta uma deliciosa canja de pombo bravo em que o ovo escalfado é de codorniz, o tomilho também brilha e o caldo, servido na mesa, surge deliciosamente avinagrado! Imenso sabor!
Pezinhos de coentrada numa homenagem a Paul Bocuse | Ainda num tachinho – a loiça oficial só chegaria na semana seguinte – um grande momento de Pedro Mendes, que presta tributo ao lendário chef francês com a recriação num registo “à la Bocuse” de um grande clássico… da cozinha tradicional alentejana! Excelente!
Espumante | Para os momentos iniciais do jantar, o novo espumante de Joaquim Arnaud, produzido nas Caves São João, a partir de Chardonnay e Arinto, tendo estagiado em garrafa durante 24 meses.
Bacalhau com crosta de azeitona galega, Brás de algas e pimento assado | Pedro Mendes usa bacalhau fresco, no ponto certo e a lascar, mas pouco salgado, de modo a ir depois buscar o sal ao crocante da pele e às algas de um delicioso Brás – as quais são, aliás uma referência à cozinha de mar que Pedro Mendes tem praticado em Cascais, no MARIA PIA. Destaque também para o creme de pimentos encarnados assados, simultaneamente doce, picante e fumado! Um grande prato de bacalhau!
Branco | O Quetzal Reserva de 2014, muito marcado pela madeira e num registo que, não sendo consensual, ligou muito bem com os sabores fortes e complexos do bacalhau de Pedro Mendes.
Borrego em duas texturas, puré de batata e açafrão, creme de espinafre e hortelã e legumes prematuros | Um tenríssimo e suculento lombo de borrego e um carré, também de borrego, com uma saborosa crosta de pistácio e alecrim, acompanhados por um sedoso puré de batata trabalhado com açafrão, legumes baby e um creme de espinafre e hortelã. Um prato quente e envolvente, que Pedro Mendes finalizou na mesa – primeiro, colocando um crocante de bolota sobre o puré; e depois pincelando uma saborosa e intensa redução do jus com Vinho do Porto. Excelente!
Tinto | Para acompanhar o borrego, o chefe de sala Pedro Vieira apresentou o poderoso Cabernet Sauvignon da Quinta do Quetzal, de 2012.
Pré-sobremesa | Na transição de sabores, mais uma referência de Pedro Mendes à “sua” bolota! Sobre um granizado de gengibre e sob a forma de bolota, chocolate e uma mousse de bolota! Um momento muito refrescante!
O almeice, maçã e poejo | Uma das características mais interessantes da cozinha de Pedro Mendes é a recuperação de produtos esquecidos e desprezados – o exemplo paradigmático é a bolota; mas há outros! Como o “almeice” ou “almece”, um sub-produto do queijo – é o soro, que se obtém do fabrico do queijo, após o aquecimento que se faz para produzir requeijão. Sendo, pois, ao almeice que Pedro Mendes recorre para ir buscar os sabores lácteos que estão na base de uma sobremesa elegante e equilibrada e ao qual junta, num interessante jogo de texturas, a frescura de uma brunoise de ananás e de um gelado de maçã e poejo, a doçura do suspiro, o toque floral das pétalas de rosa nas falsas ovas e ainda o requinte da folha de ouro! Leve, fresca, complexa!
Chocolate, ouro, morango e rosas | De grande impacto visual, a esfera de chocolate negro de Pedro Mendes esconde no interior uma mousse de chocolate branco com morangos! Sendo depois decorada com pétalas de rosa cristalizadas e flocos de ouro! Um final muito feliz!
Licoroso | Para acompanhar os momentos mais doces do jantar, o Vinho Licoroso do Mouchão, de 2011.
Alentejo Marmòris | Novamente a casa de Pedro Mendes em Vila Viçosa.
Ver também:
Fotografias: Marta Felino e Raul Lufinha
NARCISSUS
Alentejo Marmòris Hotel & Spa, Largo Gago Coutinho, 11, Vila Viçosa, Portugal
Chef Pedro Mendes
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