Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Os vencedores dos Prémios Mesa Marcada 2019
Em meados deste mês, na semana anterior à da cerimónia de entrega dos prémios do blog Mesa Marcada de Duarte Calvão e Miguel Pires, encontrei por acaso na rua um amigo com quem já não estava há algum tempo – e que não pertence ao meio gastronómico embora saiba que costumo participar na votação – o qual, a meio da rápida conversa, me perguntou:
«E então, és do João Rodrigues?»
Ainda a sorrir com a inusitada questão surgida do nada, comecei por lhe dizer que no passado até já tinha votado João Rodrigues, mas que este ano não o podia fazer – de acordo com as regras, só podemos indicar restaurantes que tivéssemos visitado ao longo do respetivo ano; e em 2019, apesar de ter comido pratos do João Rodrigues noutros sítios, não fui ao FEITORIA.
Entretanto, a conversa acabou por fluir por outros caminhos e tivemos que nos despedir sem ter sido possível voltar ao tema da votação.
De modo que não lhe cheguei a dizer que aquela pergunta – apesar de divertida – partia de um pressuposto errado.
É que isto não é um Benfica-Sporting.
Claro que há imensas pessoas, imensos clientes, para quem a ida a um restaurante é uma atividade grupal. A sua lógica – completamente legítima, aliás – é a de que vamos “aos de que gostamos”, vamos “aos nossos”. É uma atividade de pertença – a um grupo, a uma comunidade.
Contudo, para mim, a gastronomia não é assim tão básica, não é assim tão primária, não é assim tão linear.
Não são os bons contra os maus.
Não é como brincar aos polícias e aos ladrões. Ou aos índios e aos cowboys.
Nós contra eles.
Os nossos. E os outros.
Não.
Para mim, enquanto cliente, não há os do nosso clube (seja ele um chefe, um restaurante, uma região ou um estilo de cozinha) e depois os outros, os dos outros clubes, os nossos rivais, aqueles que têm que perder para que nós possamos ganhar.
Daí que este tenha sido o ano mais estranho dos Prémios Mesa Marcada. Foi aquele em que tivémos as melhores condições para assistir à cerimónia – que decorreu no anfiteatro da Gare Marítima de Alcântara, em Lisboa. Mas foi também aquele em que mais se viveu um festivo ambiente de claque – vista cá de cima e atrás da última fila, não parecia tanto a audiência de um evento gastronómico, parecia muito mais a bancada da equipa da casa de um recinto desportivo! De tal forma que enquanto ia decorrendo a entrega dos sucessivos prémios – que culminaram novamente na consagração de João Rodrigues e do FEITORIA – só me vinha à cabeça a futebolística pergunta sobre de que chefe eu seria…
Porém, efetivamente e cada vez mais, não vejo os restaurantes como uma competição desportiva.
Para mim, ir a um restaurante não é sair de casa para ir apoiar a nossa equipa!
Não!
E, já agora, também não é propriamente para ir comer que vou a um restaurante – se fosse só para comer, comeria em casa.
Para mim, ir a um restaurante é como ir a um museu.
Ao qual vamos para conhecer o trabalho de um determinado autor.
Não havendo competições entre museus. Nem entre pintores.
Cada um tem o seu estilo, a sua abordagem, a sua identidade, a sua linguagem, a sua obra.
E o mais importante não é julgá-la, classificá-la, hierarquizá-la.
O mais importante não é escolher a melhor.
Nem é, sequer, apurar ou identificar aquela de que mais gostamos ou que é a nossa preferida.
Não!
O mais interessante é conhecer!
Conhecer o máximo possível!
E tentar aprender!
E tentar compreender!
Sem julgamentos.
Sem competições.
Tentando apenas apreender o melhor de cada espaço e de cada chefe.
Daí que, apesar de altamente gratificante – obrigado Duarte e Miguel pelo convite –, votar neste género de prémios seja igualmente, para mim, um exercício doloroso e injusto. Obriga a escolher uns e a preterir outros – quando gostamos de todos (ou quase); naturalmente, de uns mais por umas razões, de outros mais por outras. E doloroso ainda também, claro, porque, como todos os votantes, só podemos votar nos que visitámos nesse ano – sendo difícil (impossível mesmo), a cada novo ano, voltar a visitar todos aqueles de que mais gostamos ou de que mais gostámos, de norte a sul do país e nas ilhas, e, bem assim, conhecer igualmente cada um dos novos projetos que estão sempre a surgir.
De qualquer modo, todos estes prémios, todas estas estrelas, todos estes guias – que há hoje em dia – revelam-se de uma extrema importância.
Não são absolutos, claro – nenhum deles é.
Mas todos eles, apesar das suas inerentes limitações, nos dão pistas valiosas sobre aquilo que vale a pena conhecer!
Ver também:
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.