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O Menu da Estação no BELCANTO

por Raul Lufinha, em 31.10.12

Azeitona3

 

No BELCANTO, o Menu da Estação é composto por três pratos: entrada, carne ou peixe e sobremesa. Contudo, em restaurantes de fine dining, a experiência gastronómica proporcionada ao cliente vai muito para além da que é enunciada inicialmente. Fazendo parte do jogo não mostrar tudo logo de início…

 

Começando pelo princípio, em meados de Setembro a refeição, como acontece em tantos restaurantes por esse país fora, abriu com azeitonas…

 

... Mas – com José Avillez há sempre um “mas” – não são umas azeitonas quaisquer. A composição vem dos tempos do TAVARES e chama-se Azeitona3 – sendo “ao cubo” precisamente para representar as três diferentes formas de servir a azeitona que são apresentadas.

 

As duas primeiras azeitonas vêm cada uma na sua colher, as quais assentam num tronco de – não por acaso! – oliveira, desenhado pelo chef Avillez: uma, é uma azeitona preta, revestida por um polme de tempura leve e estaladiço; e outra é uma azeitona verde explosiva, ou seja, uma esferificação de sumo de azeitona que rebenta na boca.

 

Já a terceira variante é um notável dry martini invertido. Invertido na medida em que, em vez de ser gin decorado com azeitona, é sumo de azeitona decorado com uma azeitona, a qual é na verdade uma esfericação com gin no interior – pelo que só quando a falsa azeitona "explode" na boca é que se liberta o gin...

 

Depois, a secção “Nem tudo o que parece é”. Primeiro “Bacalhau com grão”…

 

"Bacalhau com grão" 

 

… seguindo-se um “Ferrero Rocher”. Que também não é um Ferrero Rocher! Com efeito, para além: de o chocolate ter uma percentagem de cacau bastante superior à do chocolate de leite original, sendo muito mais intenso e saboroso; de a textura ser mais cremosa; e de a suposta prata dourada ser folha de ouro comestível; também o recheio não é uma avelã inteira mas antes foie gras…

 

"Ferrero Rocher"

 

Entretanto chega o pão – muito bom, com destaque para um caracol de azeitonas – e as manteigas, uma dos Açores, outra de nozes e outra ainda fumada com flor de sal.

 

As 3 manteigas do BELCANTO: de vaca, dos Açores; com sabor a noz; e fumada, com flor de sal

 

Quanto aos vinhos, a sugestão de Nuno Oliveira foi começar com o branco argentino Gran Lurton, Corte Friulano 2009, feito a partir da casta friulano, típica do norte de Itália, com pinot gris, chardonnay e torrontés, em que se destacavam as notas cítricas no final.

 

Ainda antes do início do menu propriamente dito chega uma extraordinária composição de percebes com algas e gelatinas a saber a mar e a água salgada, sobre um creme de couve-flor, que é um mini-Cabo da Roca, outro dos pratos emblemáticos de Avillez.

 

Mini "Cabo da Roca"

 

E, a seguir, um maravilhoso lombo de sardinha assada com gel de pimentos assados – todo o sabor da sardinha assada acompanhada de pimentos assados, mas com uma textura muito mais suave e aveludada.

 

"Sardinha assada"

 

Finalmente, chega a entrada do Menu da Estação: Sapateira e abacate. Um novo prato de José Avillez, já deste ano, muito refrescante e em que, para além dos dois ingredientes principais, sobressaem ainda as gelatinas, uma de água do mar e outra de maçã verde granny Smith, bem como os rebentos de coentros. E que é harmonizada com o Quinta do Ameal Escolha 2009 Branco, um vinho verde com muito boa acidez feito a partir da casta Loureiro.

 

"Sapateira e abacate"

 

No prato principal, optando pelo peixe, a escolha recaía na Raia Jackson Pollock, uma composição extremamente visual na qual o chef José Avillez, em homenagem ao conhecido pintor norte-americano no centenário do seu nascimento, utiliza a mesma técnica do dripping: enquanto Jackson Pollock entornava tinta sobre a tela dos seus quadros, José Avillez pintalga a raia, as batatas ratte e as cebolinhas com molhos de cenoura (cor de laranja), azeitona verde (verde), azeitona preta (cor de vinho), alho (branco) e tinta de choco (preto), recriando o efeito que Pollock dava aos seus quadros. Sendo ainda colocada na mesa uma mini-reprodução do quadro “Number 8” de Jackson Pollock, de 1949, para mostrar a ligação entre o quadro e o prato.

 

Sobre essa ligação Jackson Pollock / José Avillez ver ainda aqui um post de Maio com informação adicional.

 

Na mesa... o prato e o quadro...

 

... a "Raia Jackson Pollock" de José Avillez...

 

... e uma reprodução do quadro "Number 8" de Jackson Pollock

 

O qual foi acompanhado pelo alentejano Monte da Ravasqueira 2010 Tinto – feito a partir de 6 castas e com parte do lote a ter estagiado 6 meses em barricas de carvalho francês, é um vinho muito elegante e equilibrado.

 

A seguir, para pré-sobremesa, uma framboesa vidrada e com wasabi, servida fria.

 

Framboesa

 

Depois, como a sobremesa do Menu da Estação era a já clássica reinterpretação do pastel de nata por José Avillez – Pastel de nata em mil-folhas, com gelado de canela –, o restaurante simpaticamente acedeu a trocá-la por outra à escolha.

 

Num caso, para repetir a notável sobremesa de chocolate do BELCANTO, que o conjuga com avelã e é um upgrade da Avelã3 do CANTINHO DO AVILLEZ… servida num prato desenhado por José Avillez com a ceramista Cátia Pessoa (ver aqui). Acompanhada, por contraste, com o Alvada, um Madeira blended, de 5 anos, com malvasia e bual, da Blandy's.

 

"Chocolate e avelã"

 

E noutro, para conhecer Laranja e Xisto, uma nova criação de José Avillez com merengue; acompanhada, por aproximação, com um moscatel de 2008.

 

"Laranja e Xisto"

 

Finalmente, chegou a caixa das mignardises.

 

Mignardises

Fotografias: Marta Felino / Flash Food

 

Uma palavra final para o serviço, que é muito acolhedor e afável mas sem nunca perder o sentido do rigor. Merecendo o Reis, o Nuno, o Filipe e o Francisco um agradecimento especial.

 

Olhando para trás, sente-se que o BELCANTO é um restaurante cada vez mais consolidado. É sabido que José Avillez é um chef que não gosta de facilitar nem de dar passos em falso, só mudando quando tem a certeza absoluta de que a mudança é para melhor. Até porque, como escreve nos seus Mandamentos, "para fazer diferente é preciso fazer tão bom ou melhor. Caso contrário, o melhor é fazer igual". Pelo que dá gosto ver que está cada vez com mais confiança e que progressivamente se vai superando na introdução de novos pratos na carta do BELCANTO.

 

BELCANTO | Largo de São Carlos, 10, Lisboa, Portugal | Chef José Avillez

 

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publicado às 01:38


1 comentário

De Nini a 31.10.2012 às 15:30

Tanta CRIATIVIDADE, SENSIBILIDADE e o PRAZER de ir sempre mais além, é no " ZÉ AVILLEZ ", Chefe e dono do "BELCANTO ", onde já fiz jantares muito Felizes !
As "Azeitonas", que explodem no palato... E o prato da "RAIA", uma autentica pintura - POLLOCKIANA - deixam-me sem palavras. Parabéns à " MESA do CHEF ", por tão excelente post. Até breve!

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